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Chapter 25 - Ecos na Estrada e o Peso da Lâmina.

A partida de casa foi carregada de uma mistura estranha de solenidade e agitação infantil. A convocação real pairava no ar como uma nuvem densa, cheia de expectativas e incertezas, mas para Vivian, agora com quatro anos e um reservatório infinito de energia, era apenas o começo de uma grande aventura. Desde o momento em que a carruagem deixou os portões da propriedade Freimann, ela não parou de tagarelar, apontando para cada árvore, cada pássaro, cada pedra diferente na beira da estrada.

Eu estava sentado ao lado dela na carruagem espaçosa, com Mãe do outro lado de Vivian, e Pai sentado à nossa frente. O balanço suave do veículo sobre a estrada de terra batida era quase hipnótico, mas a excitação de Vivian era contagiante, quebrando qualquer monotonia. Seus olhos azuis, tão parecidos com os de Mãe, brilhavam com curiosidade pura.

— Olha, Eli! Uma borboleta azul! Igual àquela do livro que a Vovó leu! — Ela apontava com o dedo rechonchudo, o rosto colado na janela.

— Estou vendo, Vivi. É bonita — respondi, forçando um sorriso. Minha mente estava em outro lugar, repassando os treinos, as palavras de Vovó, a imagem do selo real no pergaminho.

A paisagem do Feudo Halendor desfilava pela janela. Campos cultivados, pequenas vilas com chaminés fumegantes, o verde exuberante das florestas que margeavam a estrada. Era familiar, seguro. Mas logo chegaríamos à ponte sobre o Rio Halendor, o rio que dava nome às nossas terras, e que marcava o limite do nosso feudo. Além dela, começava o desconhecido, a longa estrada para Velunor.

Quando a carruagem finalmente rangeu sobre as tábuas grossas da ponte, o som oco ecoando sob nós, Vivian ficou em silêncio por um momento, maravilhada com a vista do rio largo e serpenteante lá embaixo. O sol da manhã arrancava brilhos da água corrente. Então, seu olhar se voltou para o céu, onde nuvens brancas e fofas flutuavam preguiçosamente.

— Eli! Olha! Aquela nuvem parece um dragão! — Ela exclamou, apontando para uma formação particularmente grande e alongada, com protuberâncias que lembravam asas e uma cauda. — Um dragão de verdade! Será que tem dragões em Velunor?

Mãe riu suavemente. — Dragões são criaturas de lendas muito antigas, meu amor. Não existem mais em nosso reino há séculos.

— Mas e se tiver um escondido? — Vivian insistiu, virando-se para mim com os olhos arregalados. — O que você faria, Eli? Se a gente encontrasse um dragão na capital?

A pergunta me pegou de surpresa. Um dragão... A imagem era absurda, mas a seriedade em seu rosto era genuína. Pensei por um instante, entrando na brincadeira dela, mas também sentindo um peso inesperado na resposta.

— Se tivesse um dragão lá — comecei, tentando parecer confiante —, eu pegaria minha espada... — Toquei o cabo da espada de treino que estava ao meu lado, embora soubesse que ela se referia a um perigo real. — ...e lutaria com ele. Eu o derrotaria para proteger você e a Mamãe.

— E depois? — ela perguntou, ansiosa.

— E depois... — Olhei para o brilho em seus olhos. — Depois eu pegaria um dente dele e faria um brinquedo para você. Um dragãozinho de dente.

Vivian soltou uma gargalhada deliciosa. — Um dragão de dente! Eu ia gostar disso, Eli!

O sorriso dela aqueceu algo dentro de mim, afastando momentaneamente as sombras da convocação e das minhas próprias inseguranças. Proteger minha família... Era por isso que eu treinava. Era por isso que suportava a dor muscular, a frustração com a espada, a exaustão mental após horas com Vovó. Era para garantir que o sorriso de Vivian e a segurança de Mãe nunca fossem ameaçados.

Enquanto a carruagem deixava a ponte para trás e entrava nas terras vizinhas, meu olhar se voltou para os homens que nos escoltavam. Quatro figuras montadas, cavalgando em formação protetora ao redor da carruagem. Eram soldados da Casa Freimann, leais ao meu Pai. À frente, cavalgava o Capitão Borin, um homem de meia-idade, rosto marcado pelo tempo e por batalhas passadas, cuja presença emanava calma e autoridade. Seus olhos atentos varriam constantemente a estrada e as matas ao redor. Flanqueando a carruagem, um de cada lado, iam dois soldados mais jovens, mas igualmente alertas, com as mãos sempre próximas aos cabos de suas espadas.

Eles vestiam a armadura padrão da nossa guarda — couro reforçado com placas de metal nos ombros, peito e pernas — tingida de um azul escuro profundo. No peitoral de cada um, e nos escudos que levavam presos à sela, brilhava o brasão da nossa família: dois cajados de madeira clara cruzados em forma de "X", entalhados com runas antigas que cintilavam suavemente, talvez simbolizando a sabedoria arcana ou nossa ligação ancestral com a terra. No topo de cada cajado, um pequeno cristal facetado brilhava com uma luz mágica contida. Por trás dos cajados, descendo verticalmente pelo centro, havia uma espada de lâmina reta, apontando para baixo — um símbolo de vigilância, contenção e proteção, evocando a força contida e o dever silencioso.

O brasão inteiro era delineado em fino fio dourado, com arabescos e ornamentos que contornavam o escudo em um trabalho de minúcia, um contraste elegante contra o azul profundo da armadura. Era mais que um emblema — era a marca viva da nossa linhagem: a Nobreza Arcana Freimann. Talvez não tão antiga ou influente quanto as Casas de Sangue-Puro, como os Von Stein, mas com sua própria história, sua própria glória silenciosa — e, acima de tudo, seu próprio dever.

Ver aqueles homens ali, dedicados à nossa proteção, era reconfortante, mas também um lembrete da posição da nossa família e dos perigos que poderiam existir mesmo em estradas consideradas seguras. A viagem para Velunor não era apenas um passeio; era um deslocamento oficial, e a presença da guarda era uma necessidade, não um luxo.

Os dias seguintes se desenrolaram em um ritmo constante, marcado pelo trotar dos cavalos, o ranger da carruagem e a paisagem em constante mudança do lado de fora. Deixamos para trás as colinas familiares e os bosques densos do nosso feudo, entrando em terras mais abertas, com planícies que se estendiam até onde a vista alcançava, pontilhadas por fazendas maiores e vilarejos mais movimentados do que os que eu conhecia. As estradas também melhoraram, tornando a viagem menos acidentada, embora o pó levantado pelas rodas e cascos fosse uma constante.

Dentro da carruagem, estabelecemos uma rotina silenciosa. Mãe passava boa parte do tempo lendo um livro de capa de couro ou entretendo Vivian com histórias e jogos de mão. Vivian, após a excitação inicial, alternava entre cochilos embalados pelo movimento e períodos de observação silenciosa pela janela, ocasionalmente fazendo perguntas sobre alguma flor diferente ou um animal que avistava ao longe. Pai permanecia alerta, os olhos frequentemente fixos na estrada à frente ou trocando palavras curtas com o Capitão Borin durante nossas paradas para descanso e refeições. Ele parecia carregar o peso da responsabilidade da viagem e da convocação em seus ombros largos.

Eu tentava usar o tempo para praticar o que Vovó Margareth me ensinara sobre foco e controle mental. Fechava os olhos e tentava sentir a energia ao redor, a vibração da terra sob as rodas, o fluxo do vento do lado de fora, a presença calma de Mãe e a energia vibrante de Vivian ao meu lado. Tentava isolar meu, meu Querer, direcionando-o para um ponto fixo imaginário à minha frente, e depois usava a “Consciência” para mantê-lo lá, estável, sem deixar que os solavancos da estrada ou os pensamentos aleatórios o desviassem. Era um exercício mental exaustivo, e muitas vezes eu me pegava distraído, pensando em Velunor, na apresentação, em Belle, na minha dificuldade com a espada... Vovó diria que minha mente ainda era um riacho turbulento, não um lago sereno. Mas eu persistia, tocando discretamente os brincos rúnicos que Mãe me dera, buscando aquele ponto de clareza.

Parávamos ao meio-dia para uma refeição simples, geralmente à sombra de alguma árvore grande perto da estrada, enquanto os cavalos descansavam e bebiam água. Nessas horas, o Capitão Borin e os outros soldados mantinham uma vigilância redobrada, posicionando-se de forma a ter uma visão clara dos arredores. À noite, procurávamos estalagens recomendadas em vilas maiores ao longo do caminho. Eram lugares barulhentos e cheios de gente estranha, muito diferentes da tranquilidade da nossa casa. Dormíamos em quartos simples, mas limpos, e partíamos novamente ao raiar do sol.

No terceiro dia, atravessamos uma região de colinas cobertas por vinhedos, o cheiro adocicado das uvas maduras pairando no ar. Passamos por uma cidade murada, muito maior que qualquer vilarejo que eu já tinha visto, com um mercado movimentado e guardas com uniformes diferentes dos nossos. A sensação de estar indo para um lugar verdadeiramente importante, o centro do reino, começou a se intensificar. Velunor devia ser ainda maior, ainda mais impressionante.

A monotonia relativa da viagem, no entanto, criava uma falsa sensação de segurança. Eu quase me esquecia dos perigos que poderiam espreitar nas estradas, perigos que justificavam a presença constante dos nossos guardas. Estava perdido em pensamentos sobre como seria a apresentação, imaginando um grande salão cheio de nobres e o próprio Rei Theron nos observando, quando o quarto dia de viagem chegou ao seu meio.

Estávamos atravessando uma seção de floresta mais densa, onde as árvores altas formavam um dossel que filtrava a luz do sol, criando um jogo de sombras na estrada à frente. O ar estava mais fresco ali, e o único som era o ritmo constante da nossa pequena comitiva. Foi então que a tranquilidade se estilhaçou.

Um grito rouco ecoou pela floresta, seguido quase imediatamente pelo relinchar assustado dos cavalos da frente e o som abrupto da carruagem parando com um solavanco que nos jogou para frente. Vivian soltou um gritinho assustado e se agarrou à Mãe, que instintivamente a puxou para si, o rosto pálido e tenso.

— O que foi isso? — perguntei, a voz saindo mais trêmula do que eu gostaria.

Pai já estava com a mão no cabo da espada embainhada ao seu lado, os olhos fixos na janela dianteira, a expressão dura como pedra. — Problemas. Fiquem abaixados e quietos — ordenou ele em voz baixa, mas firme.

Do lado de fora, a cacofonia irrompeu. Gritos de ordens do Capitão Borin, o choque metálico de espadas se encontrando, grunhidos de esforço e dor. A carruagem balançou violentamente quando algo ou alguém bateu contra ela.

Espiei cautelosamente pela fresta da cortina da janela lateral. Cinco figuras maltrapilhas, armadas com espadas enferrujadas e machados improvisados, haviam bloqueado a estrada com um tronco de árvore derrubado e agora atacavam nossos guardas. Eram homens rudes, com rostos sujos e olhares desesperados ou cruéis. Bandidos. Salteadores de estrada.

O Capitão Borin estava desmontado, sua espada um borrão prateado enquanto enfrentava dois deles simultaneamente, seus movimentos precisos e defensivos, aparando golpes desajeitados, mas brutais. Os outros dois soldados Freimann, também desmontados, lutavam cada um contra um bandido, o som das lâminas ecoando secamente na quietude da floresta. Eles eram mais jovens, menos experientes que o capitão, mas lutavam com a disciplina do treinamento, mantendo a formação e protegendo os flancos da carruagem.

Mas o quinto bandido era diferente. Ele não se juntou ao ataque inicial aos guardas. Estava parado perto do tronco, observando, e havia algo em sua postura, em seu olhar calculista, que o diferenciava dos outros. Ele era mais alto, vestia couro escuro um pouco melhor que os trapos dos comparsas, e a espada que segurava era de melhor qualidade, brilhando sombriamente à luz filtrada. E então, ele se moveu.

Não com a fúria desajeitada dos outros, mas com uma velocidade surpreendente, contornando a luta principal e vindo direto para a carruagem. Seu alvo era claro: os ocupantes.

Antes que ele pudesse alcançar a porta, meu Pai já estava lá. Ele saltou da carruagem com uma agilidade que desmentia sua figura normalmente calma, a espada desembainhada em um movimento fluido. O aço cantou ao encontrar o do bandido.

— Fiquem dentro! — gritou Pai por sobre o ombro, antes de se engajar totalmente no duelo.

Observei, o coração martelando no peito, a luta se desenrolar a poucos metros da nossa janela. O bandido era rápido, seus ataques eram precisos e carregados de uma energia sutil que eu reconheci vagamente dos treinos com Belle. Ele não usava o “Passus Aethereus”, mas seus músculos pareciam tensos, seus movimentos ligeiramente aprimorados. Um Espadachim Arcano. Um fraco, talvez, ou um que não dominava completamente suas habilidades, mas ainda assim, perigoso.

Pai lutava com uma calma mortal. Seus movimentos eram econômicos, defensivos no início, usando a lâmina para desviar os ataques rápidos do oponente, testando suas defesas, avaliando seu estilo. Ele não tinha a velocidade explosiva do bandido, mas sua técnica era impecável, cada parada, cada esquiva, executada com a precisão de anos de treinamento. Ele mantinha o Espadachim Arcano ocupado, impedindo-o de se aproximar mais da carruagem onde estávamos.

Enquanto isso, a luta dos guardas continuava brutal. Ouvi um grito agudo de dor, e vi um dos bandidos cair no chão, atingido por um golpe certeiro de um dos nossos soldados. O Capitão Borin, aproveitando uma abertura, desarmou um de seus oponentes com um giro rápido do pulso e o derrubou com o pomo da espada. O terceiro bandido, vendo seus companheiros caírem, hesitou por um instante fatal, e o segundo soldado Freimann o atravessou com a espada.

Três bandidos fora de combate em questão de minutos. O quarto, que lutava contra o capitão, largou a arma e ergueu as mãos em rendição, o rosto pálido de terror.

Mas a luta principal continuava. O Espadachim Arcano, vendo seus comparsas derrotados, pareceu ficar desesperado. Seus ataques se tornaram mais frenéticos, mais selvagens, buscando uma abertura na defesa de Pai. Ele tentou um golpe baixo, uma finta rápida seguida de uma estocada na direção das pernas de Pai.

Lucius antecipou o movimento. Ele não apenas desviou a lâmina, mas usou o impulso do bandido contra ele mesmo, girando e prendendo o braço armado do oponente. Com um movimento rápido e forte, ele torceu o pulso do bandido, forçando-o a largar a espada com um uivo de dor. Antes que o Espadachim pudesse reagir, a ponta da espada de Pai estava pressionada contra sua garganta.

O silêncio caiu sobre a clareira, quebrado apenas pela respiração ofegante dos combatentes, o choro baixo de Vivian e o relinchar nervoso dos cavalos. O Capitão Borin e os outros dois soldados rapidamente amarraram o bandido que se rendeu e verificaram os caídos, confirmando as mortes.

Pai mantinha o Espadachim Arcano imobilizado, a espada firme em sua garganta. O homem estava pálido, suor escorrendo pelo rosto, os olhos arregalados de medo e dor, segurando o pulso torcido.

— Acabou — disse Pai, a voz baixa e dura. — Quem são vocês? Por que nos atacaram?

O bandido apenas gemeu, incapaz de falar com a lâmina pressionando sua traqueia.

Parecia que o perigo havia passado. Senti a tensão no meu corpo começar a diminuir. Mãe suspirou aliviada, abraçando Vivian com força. Abri a porta da carruagem com cuidado, precisava ver se Pai estava bem, precisava respirar o ar fresco depois da tensão sufocante lá dentro.

No instante em que pisei fora da carruagem, o cheiro acre de sangue e suor atingiu minhas narinas. Vi os corpos dos bandidos caídos, o homem rendido sendo amarrado pelos nossos soldados, e meu Pai, firme, controlando o último inimigo. Respirei fundo, o alívio começando a lavar a adrenalina fria que me percorria.

Foi nesse exato momento de aparente calma que o inferno decidiu mostrar sua verdadeira face. O Espadachim Arcano, mesmo com a espada de meu Pai em sua garganta, mesmo com o pulso torcido e a dor estampada no rosto, fez algo impensável. Seus olhos encontraram os meus por uma fração de segundo, e neles não havia medo, apenas um brilho desesperado e maligno. Então, ele explodiu em movimento.

Não foi um ataque contra meu Pai. Foi um desvio, um impulso lateral e para frente, direto para a porta aberta da carruagem onde Mãe e Vivian ainda estavam. Ele usou sua arte arcana, uma versão talvez mais crua ou desesperada do *Passus Aethereus* de Belle. Não foi um teleporte limpo, mas um borrão de velocidade impulsionado por mana, uma investida suicida que o levou da ponta da espada de meu Pai até a soleira da carruagem em menos de um piscar de olhos. Ouvi o grito de surpresa de meu Pai e o grito aterrorizado de minha Mãe.

O tempo pareceu congelar. Vi a mão livre do bandido se estender na direção de Vivian, os dedos crispados como garras. Vi o pânico nos olhos de minha Mãe enquanto ela tentava puxar Vivian para mais longe. Vi meu Pai começando a se virar, mas sabendo que não chegaria a tempo.

E então, algo dentro de mim se rompeu. Não houve pensamento consciente, não houve planejamento. Houve apenas um instinto avassalador, uma torrente de fúria protetora que engoliu todo o medo, toda a hesitação. Minha mão foi automaticamente para o lado, onde eu carregava a espada curta que meu Pai me dera antes da viagem – uma lâmina especial, mais leve que a de treino, com finas runas gravadas em seu aço que, segundo ele, responderiam à minha energia de Fogo.

"Para emergências, Elian. Que os deuses não permitam que precise usá-la, mas esteja pronto", ele dissera.

A emergência estava ali, na minha frente.

A espada saltou da bainha improvisada em meu cinto com uma velocidade que eu mesmo não sabia possuir. Dei um passo à frente, interceptando a trajetória do bandido no exato momento em que ele alcançava a carruagem. Ele nem pareceu me notar, seu foco estava totalmente em suas vítimas indefesas.

Com toda a força do meu corpo pequeno, impulsionado pelo desespero e pela adrenalina, eu cravei a lâmina rúnica no peito do Espadachim Arcano.

Houve um som horrível, um misto de carne rasgando e metal batendo em osso. Senti o impacto percorrer meu braço, a resistência súbita seguida pela sensação nauseante da lâmina afundando. O bandido congelou, o movimento interrompido, os olhos arregalados de choque e dor se voltando para mim.

E então, as runas na espada brilharam. Um brilho vermelho-âmbar intenso, faminto. Senti minha própria energia de Fogo sendo puxada, canalizada através das runas e despejada na ferida. Não foi uma ordem consciente minha, foi uma reação da espada à minha intenção assassina, à minha vontade desesperada de proteger.

O bandido abriu a boca, mas em vez de um grito, o que saiu foi um som gutural, um arquejo de agonia pura enquanto o fogo arcano começava a consumi-lo por dentro. Seus olhos se reviraram, veias saltaram em seu pescoço e testa. Fumaça começou a sair de sua boca e da ferida em seu peito. O cheiro de carne queimada subitamente preencheu o ar, sufocante e vil.

Ele se debateu por um momento, as mãos tentando inutilmente agarrar a lâmina que o empalava e o incinerava simultaneamente. Seus gritos se tornaram gorgolejos molhados e desesperados enquanto seus órgãos internos eram cozidos. Eu permaneci ali, imóvel, segurando o cabo da espada com uma força que não sabia que tinha, sentindo as vibrações horríveis de sua morte através do aço, observando com um fascínio mórbido e aterrorizado enquanto a vida se esvaía dele de forma tão brutal.

Finalmente, com um último espasmo, ele ficou mole, o corpo pendendo sobre a minha espada, o brilho das runas diminuindo lentamente, deixando para trás apenas o silêncio chocado da clareira e o cheiro nauseante de morte e fumaça.

O mundo pareceu voltar a ter som e cor de forma abrupta. Ouvi o grito sufocado de minha Mãe vindo da carruagem, o som de passos apressados atrás de mim – meu Pai, o Capitão Borin. Senti o peso morto do bandido pendurado na minha espada, o calor residual da lâmina contra minha mão.

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