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Chapter 8 - UMA PRAÇA DE TOUROS EM SEVILHA..

O teatro estava lotado naquela noite de estreia de Carmen, a célebre ópera de Bizet. Maria Fernanda, o contralto mais aclamado dos últimos tempos, era uma das grandes atrações. Após anos de aperfeiçoamento na Itália e vários prêmios acumulados, ela encantava o público com sua presença imponente.

Alberto ajeitava o binóculo, observando os camarotes iluminados e coloridos pelos vestidos das mulheres, e exclamou:

— Quanta mulher bonita!

Ao seu lado, seu amigo apontou discretamente para uma mulher em um vestido de tule preto, audaciosamente decotado.

— Aquela não é Paula?

Alberto confirmou, sem conseguir disfarçar um sorriso meio amargo.

— É sim. E a sua atração por ela?

— Cada vez mais forte... — respondeu o amigo, com um suspiro.

Alberto, entretanto, parecia desinteressado na noite. Confidenciou ao amigo:

— Nunca fui muito fã de ópera. Duas horas de espetáculo para três ou quatro árias boas... e, convenhamos, cantar para pedir um copo d'água é um tanto cômico, não acha?

— Talvez, mas é um gênero amado, tem seu público fiel. — O amigo, com os olhos ainda presos em Paula, deu de ombros. — Acho que você só está de mau humor. Brigou com Verônica?

— Brigamos... Convidei-a para vir comigo, mas ela disse que estava com dor de cabeça. — Alberto lançou um olhar amargo em direção a um dos camarotes. — E ali está ela, no segundo camarote à direita, com Cora e aqueles empresários, Mr. Gedeon e Mr. Graz. Não é desaforo?

A conversa foi interrompida pelas primeiras notas vigorosas da orquestra. A cortina subiu, revelando a praça de Sevilha. Logo entraram em cena o barítono e o soprano, e pouco depois, Dom José, trajando o uniforme chamativo de cabo dos dragões. Quando as trombetas soaram, as operárias da fábrica de tabaco se aproximaram, e entre elas surgiu Maria Fernanda, encarnando Carmen com seu xale crème e uma flor vermelha nos cabelos. Ela começou a cantar a famosa habanera com sua voz quente de contralto, e Alberto, observando, não pôde deixar de pensar:

— Tem cabelos vermelhos como Hugo e Clarence...

No intervalo do primeiro ato, Alberto sentiu uma vontade irresistível de ir ao camarote de Verônica, mas resistiu. Quando decidiu ficar, um bilhete lhe foi entregue: era de Rachel, pedindo que ele a encontrasse no próximo intervalo. Vestida em um lamê verde que acentuava sua beleza, Rachel o recebeu com um sorriso encantador. Mas Alberto, para sua surpresa, não sentiu nada.

— Ela é linda, encantadora... mas não é Verônica... — pensou.

Os atos seguintes passaram rapidamente, e enfim chegou o momento final. Em frente à arena de touros, vendedores e dançarinas entretinham o público. Escamillo, o herói do dia, fez sua entrada triunfal com Carmen ao seu lado, envolta em um xale vermelho bordado a ouro. No palco, Dom José, desesperado, implorava pelo amor da cigana, mas Carmen foi irredutível:

— Impossível. Tudo acabou entre nós.

A vitória de Escamillo era anunciada na arena enquanto, cego de ciúmes, Dom José enfiava um punhal no peito de Carmen. Ao som dos aplausos e das últimas notas, o teatro explodiu em entusiasmo. Gritos de "bravo" ecoavam por toda a sala, e a cortina se ergueu uma última vez para o agradecimento dos artistas.

Quando todos estavam no palco para os aplausos finais, o tenor chamou:

— Vamos, Fernanda, levante-se!

Mas ela não respondeu. Carmen ainda estava caída, imóvel. E naquele momento, a plateia percebeu: Maria Fernanda estava realmente morta.

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