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Chapter 20 - APERTA-SE O CERCO

O pano foi minuciosamente analisado. O tecido das luvas e da máscara era um algodão vermelho comum, e os chifres evidenciavam uma intenção clara de representar um demônio. Logo, o Inspetor Pimentel apareceu.

— Com isso, caro Alberto — disse ele — temos uma certeza: o "inseto" não é um fantasma, mas sim uma pessoa real, alguém de carne e osso que vive na pensão de Cora O'Shea.

O estudante, recuperando a voz, concordou:

— É verdade, o "bicho" mora mesmo na casa da irlandesa. Ele sabia exatamente o que eu procurava naquela noite, depois de ver sua sombra na rua...

— Outra coisa, Alberto — continuou o Inspetor, observando o disfarce —, quase posso apostar que o "inseto" é um homem. Veja como essas costuras são malfeitas... uma mulher faria esse trabalho com muito mais esmero.

— Concordo. Os pontos são rudes, malfeitos, costurados à mão de forma primitiva...

O Inspetor retomou o raciocínio.

— Imagino como esse "pacote" veio parar aqui. Ontem fez frio, e provavelmente o "inseto" ou um cúmplice trouxe tudo escondido, talvez em uma pasta ou debaixo do casaco, deixando na porta de sua casa.

Alberto ficou em silêncio, pensativo.

— Pobre Verônica! — suspirou ele. — Ainda não consegui explicar meu envolvimento nesse caso e o mal-entendido com Rachel Saturnino! Aliás, alguma notícia dela?

— Recebi uma carta de Dona Lia dizendo que os banhos de mar têm feito maravilhas. Ela está quase completamente recuperada.

— Melhor que Rachel não volte mais — afirmou Alberto. — O "inseto" a atacaria com ainda mais fúria...

— Precisamos proteger o Padre Afonso, mais do que nunca.

— Ele é um homem formidável! — exclamou Alberto, animado.

— Estou pensando em mandar mais dois homens para vigiá-lo.

— Lembremos que todos os ataques do "inseto" ocorreram à noite.

— Já dei ordens para meus homens se revezarem; alguns vigiam de dia, outros, após a meia-noite.

— Precisamos proteger Verônica também! Ela não pode ficar sozinha. Imagine que azar o meu... Peguei um reumatismo tão forte que mal consigo sair da cama.

— Soube que ela passou o dia trancada no quarto, chorando.

— Vou escrever uma carta para ela. Pode entregá-la?

— Claro.

Alberto abriu a gaveta do criado-mudo, pegou papel e caneta e escreveu:

"Minha querida, estou com você em pensamento. Não posso ir pessoalmente, pois a gripe me trouxe um reumatismo que me impede de andar. O Inspetor vai te explicar meu envolvimento nesse caso e o motivo pelo qual me encontrei com Rachel. Não fique triste... Adoro você, especialmente quando está sorrindo. — Alberto."

Depois de terminar a carta, ele tirou da carteira uma foto de Verônica, onde ela aparecia com Cora e Jean Graz, e a observou com ternura.

O Inspetor guardou a carta e, ao meio-dia, telefonou a Alberto:

— O irmão de Verônica veio imediatamente de avião, trouxe um advogado, e enviou-a de volta para sua casa, onde achou que ela estaria mais segura.

Mais tarde, Padre Afonso entrou em uma loja segurando pela mão uma criança órfã. Enquanto escolhia um agasalho, não percebeu os olhos frios e observadores que o espreitavam, fixos em sua vibrante cabeleira ruiva.

Quando o Inspetor Pimentel e o Subinspetor Silva chegaram à loja de artigos ortopédicos, Mr. Gedeon estava de pé, concentrado em um pequeno livro próximo a uma perna mecânica. Ao notar os dois policiais, Phillip escondeu rapidamente o livro dentro do aparelho.

— Finja que não viu — sussurrou o Inspetor a Silva. — Tente pegar o livro enquanto falo com ele.

Os dois começaram a examinar um braço artificial, e um deles, fingindo surpresa, disse:

— Ah, senhor Gedeon! Não o vimos aí!

Phillip os cumprimentou com uma cortesia forçada.

O Inspetor o levou até a porta, posicionando-o de costas para a loja.

— Meu caro Mr. Gedeon, o que pensa sobre o... "inseto"?

Phillip se sobressaltou, mas tentou disfarçar.

— Por que pergunta isso? Acha que sou eu?

O Inspetor não respondeu, apenas o observou.

— Posso contratar o melhor advogado da cidade para me defender. Isso já está indo longe demais!

— E sobre Verônica? — perguntou o Inspetor.

— Não creio que ela seja o "inseto"... embora, devo admitir, seja curioso que besouros foram encontrados debaixo de seu colchão.

O Inspetor, enojado pela falta de empatia de Phillip, fez algumas perguntas sutis, mas o americano se esquivava habilmente.

— Bem, Mr. Gedeon, só queria trocar algumas ideias.

Mal viraram a esquina, Silva tirou do bolso uma brochura vermelha com quatro besouros negros desenhados na capa.

— Veja o que ele estava lendo: "Nouvel Atlas D'Entomologie Coleoptères de France".

— Sabe de uma coisa? — disse o Inspetor. — Vamos voltar lá agora.

— Que significa isso, Mr. Gedeon? — perguntou o Inspetor, estendendo-lhe a brochura.

Phillip empalideceu, sua voz mal saindo.

— Desde quando é crime ler um livro sobre besouros?

— Não finja inocência…

— Meu interesse por besouros foi despertado após esses eventos, nada mais!

— Entendo, mas precisamos saber até onde vai esse "interesse".

Furioso, Phillip tentou pegar a brochura, mas o Inspetor segurou firme.

— Isso fica comigo. Good bye, Mr. Gedeon.

Phillip soltou uma palavra insultuosa em inglês enquanto se virava.

Saindo, o Subinspetor comentou:

— Que pensa disso tudo?

— Muita coisa e... nada. Vou solicitar informações à polícia americana sobre Phillip Gedeon antes de ele vir para cá.

De volta à delegacia, o Inspetor encontrou um recado: "Telefonar urgente para Mrs. Cora O'Shea".

Ao ligar, ouviu a irlandesa do outro lado da linha:

— Encontrei Mr. Graz e o cozinheiro brincando com um enorme besouro negro!

— Eles perceberam que você os viu?

— Sim, ficaram desapontados e se dispersaram rapidamente.

— Mantenha o cozinheiro por perto, Cora, só mais um tempo.

Silva então perguntou:

— Por que não prende todos de uma vez?

— Paciência, meu amigo. Esse caso precisa amadurecer.

— E a moça de covinhas no rosto?

— Sem ser o "inseto", ela pode estar envolvida como cúmplice…

— Temos tantas provas, mas você se mantém à espera…

O Inspetor sorriu.

— Falta o principal: o motivo psicológico que guia tudo isso. A verdade virá à tona por si só.

4o

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