"— O que foi isso? — indagavam alguns moradores, surgindo à janela, assustados pelo som do tiro.
— Por favor, escondam essa pessoa — gritou Alberto, empurrando Verônica para dentro da casa mais próxima. — Atirei num assassino e preciso persegui-lo.
— Não vá, Alberto, por favor, não vá! — implorava a jovem, tentando agarrá-lo, sua voz embargada pelo desespero.
Alberto se desvencilhou dos braços que o seguravam e disparou na direção que acreditava ser a do fugitivo.
— Explicarei tudo depois! — gritou, já correndo pela rua.
Quase sem fôlego, ele alcançou a casa de Mrs. O'Shea e apertou a campainha com impaciência, batendo à porta. Precisava saber o que os hóspedes de Cora estavam fazendo naquele momento. O cozinheiro abriu a porta, sua expressão misteriosa e grave, como sempre, e Alberto notou que ele estava vestido para sair — ou teria acabado de chegar?
— De onde veio? — perguntou Alberto de supetão.
— Por que lhe interessa tanto? — respondeu o homem, irritado.
— Repito a pergunta: de onde veio?
— Estou saindo agora — retrucou o cozinheiro, secamente. — E isso não é da sua conta.
Alberto ouviu um som vindo do corredor e virou-se na direção do ruído.
— Quem está nesse quarto?
- Sr. Gedeon.
O estudante foi até a porta e bateu. A resposta veio em um tom nasalado:
— "Quem está aí?" (Quem está aí?)
— Abra, por favor.
Phillip apareceu com uma expressão levemente alterada, vestindo uma camisa branca e calças de tweed. Seu paletó estava jogado sobre a cama.
— O que quer a essa hora? — perguntou Phillip, contrariado.
— Saber o que faz tão tarde da noite.
— "Não é da sua conta." (Não é da sua conta.)
— Insisto... ou terei de chamar a polícia.
A menção à polícia fez Phillip mudar de atitude.
— Jantei no hotel com amigos. E por que tanta insistência?
— Nada. Muito obrigado. Boa noite — respondeu Alberto, lançando um olhar perscrutador pelo quarto.
Em seguida, foi até o quarto de Mr. Graz, onde bateu na porta. A porta abriu-se lentamente, e ele apareceu, vestido em um pijama listrado que lhe dava um ar cômico, como uma zebra. Parecia tão sonolento que Alberto quase riu.
— Onde está Cora? — perguntou Alberto.
— Ainda está sonhando... — murmurou ele, bocejando.
— Desculpe o incômodo, Mr. Graz, mas preciso saber o que fazia até agora.
— Dormindo, claro — respondeu o suíço, surpreso.
— Muito obrigado. Pode voltar para a cama.
Quando ele fechou a porta, Cora apareceu no corredor, enrolada em um peignoir verde com pintas brancas.
— "O que significa isso?" (O que significa isso?) — perguntou, assustada.
Alberto a chamou para o canto e, em voz baixa, explicou o que ocorrera, pedindo desculpas por não tê-la alertado. Ele precisava surpreender o... "inseto" em flagrante. Alberto estava certo de que a sombra que o surpreendera pertencia ao misterioso ser que vigiava seus passos, esperando atacá-lo sozinho. Teria sido um verdadeiro fantasma ou simplesmente um disfarce assustador? Lamentava apenas que seu tiro não tivesse sido certeiro.
— Chamem a polícia! — ordenou ele, e minutos depois, chegou o Inspetor Pimentel.
— Vinte homens cercam o quarteirão — informou o inspetor. — Ninguém escapará.
De repente, o telefone tocou. Era Verônica, aflita, perguntando notícias. Ele a aconselhou a permanecer onde estava até que a situação fosse esclarecida. Depois de uma busca cuidadosa, resolveram deixar as coisas como estavam, pois no sábado haveria uma oportunidade melhor de investigar.
No dia seguinte, Alberto acordou febril e rouco, sem conseguir falar. Enquanto lia o jornal, seus olhos se fixaram em uma manchete alarmante:
"POLÍCIA RECEBE NOVA PISTA: CARTA ANÔNIMA REVELA IDENTIDADE DO INSETO."
A notícia acusava uma jovem do conservatório, com "ar ingênuo" e que morava na pensão onde uma das vítimas foi encontrada. Furioso, Alberto deu um murro na cama, impotente, e, pouco depois, o Inspetor Pimentel apareceu.
— Verônica é inocente — escreveu Alberto num papel.
— Também acredito nisso. A carta anônima só poderia ter sido escrita por alguém com ressentimento.
— Mas quem?
— É uma confusão. Há algo profundamente insano nisso tudo. E, por experiência, sei que, mesmo na loucura, há lógica.
Mais tarde, Alberto recebeu um embrulho. Dentro dele, um par de luvas e uma máscara vermelha, com chifres de algodão e furos para os olhos, junto com um bilhete: "Para poupar seu trabalho, com os cumprimentos do... 'Inseto'."
A tensão aumentava, e Alberto sabia que não descansaria até desvendar o mistério do "inseto" e inocentar Verônica.
4o