O psiquiatra que avaliou Rachel recomendou uma mudança imediata de ambiente e clima. Dois dias depois, a jovem foi levada para uma praia isolada, acompanhada por Lia.
— Casar-me-ei com Rachel assim que ela estiver pronta, e levá-la-ei para a Europa — anunciou o corpulento e calvo Sr. Ravic. O médico assegurou que, assim que a jovem se sentisse segura e distante dos eventos que a atormentavam, seu sistema nervoso reagiria positivamente.
— Em dois ou três meses, ela estará completamente recuperada — afirmou.
Alberto, por sua vez, não estava nada bem. Sentia um medo aterrador, e por que não confessá-lo? Apesar disso, mantinha sua rotina normal, cada vez mais determinado a descobrir a identidade do terrível e enigmático "inseto". Quem seria ele, afinal? Um ser humano ou... um monstro? Um monstro de pele vermelha, vibrante e ofuscante, com dois horríveis chifres brotando da testa... A prova de que Rachel falava a verdade estava em sua descrição, que coincidia perfeitamente com a do seu agressor, reconhecendo no besouro de papelão pintado uma cópia fiel. Tudo aquilo parecia absurdamente incompreensível...
— Será que o "inseto" usa uma máscara para aterrorizar suas vítimas? — refletiu Alberto na sala do Inspetor Pimentel.
— É a única hipótese razoável — respondeu o inspetor — Ou isso, ou teremos que considerar um fantasma ou uma aberração da natureza.
— Mas para que tudo isso, meu Deus? — exclamou Alberto. — Qual é o motivo, qual é a razão?
— Cedo ou tarde saberemos, meu caro. Precisamos agora vigiar o Padre Afonso o máximo possível. Ele é o último "cabelo de fogo" legítimo da cidade. O ideal seria afastá-lo daqui o quanto antes.
— Isso é inútil. Ele não quer sair de jeito nenhum.
Cerca de uma semana depois, o inspetor teve uma surpresa desagradável ao consultar os jornais da manhã. Na primeira página, um título em letras enormes estampava:
"MISTÉRIO E PAVOR"
A trama dos quatro crimes que abalaram a cidade foi descoberta. Um demente estaria selecionando vítimas com cabelos vermelhos e rostos sardentos, enviando besouros a elas.
Aflito, o inspetor devorava as palavras, convicto de que seus planos estavam prestes a desmoronar. Um astuto repórter havia conseguido um "furo" notável, possivelmente aproveitando a indiscrição de algum policial. Ou teria sido através de Cora O'Shea ou Dora Costa? As mulheres costumam guardar segredos com tanta dificuldade...
— Está tudo perdido — exclamou, batendo a mão na mesa. Por sorte, o jornal não mencionou os hóspedes da irlandesa entre os suspeitos. Falaram do criado da casa de Hugo, do cozinheiro de Mrs. O'Shea, do tal Cláudio, admirador de Maria Fernanda, e de um louco que havia fugido do hospício meses atrás.
Pouco depois, o telefone tocou. Era Alberto, alarmado com as notícias.
— Não há mais o que fazer — disse o inspetor.
— O que devemos fazer?
— Ficar calmos e esperar os acontecimentos. Felizmente, os jornais ainda não mencionaram seu nome. Até agora, não sabem que você está envolvido no caso.
Minutos depois, o telefone tocou novamente. Uma voz masculina queria saber detalhes e questionava se a população corria perigo.
— Até o momento, apenas os ruivos estão ameaçados — respondeu o inspetor.
Nos dias seguintes, o telefone não parou de tocar.
— Estou apavorada — dizia uma voz feminina. Tenho cabelos cor de cobre e estou decidida a me mudar. Não acha que é o melhor que posso fazer?
— Sua pele tem sardas, senhorita?
— Não.
— Sendo assim, quase posso garantir que não há perigo. Mas, de qualquer forma, será mais prudente deixar a cidade. Se não puder viajar, recomendo que pinte os cabelos de preto o mais rápido possível.
— Vou fazer isso agora mesmo.
O inspetor ligou para a casa do Padre Afonso:
— Como vão as coisas?
— Ótimo. Até agora, nada.
— Meu amigo, não seja imprudente. Você sabe que está em sério risco de vida.
— Estou ciente disso.
— Por que não passa uns meses na fazenda de seu pai?
— No momento, não posso. Estou organizando o serviço de assistência social da paróquia, e se sair agora, tudo desmoronará.
— Encarreguei dois auxiliares meus de vigiá-lo. São homens de total confiança e farão o serviço discretamente.
Um deles vai fiscalizar sua casa, enquanto o outro ficará na igreja o dia todo, escondido no coro. Ambos estarão armados, com ordens de atirar ao primeiro sinal.
— O senhor está se esforçando muito pelo pobre vigário.
— Todo cuidado é pouco — disse o inspetor —. Qualquer novidade, avise-me imediatamente.
O inspetor visitou cerca de nove entomologistas amadores da cidade. Todos estavam alarmados e inquietos. Um deles logo declarou:
— Como o senhor sabe, sou especialista em Lepidópteros. Veja minha coleção de borboletas... Não entendo nada sobre besouros...
Outro, que exibia um bigode negro e espesso, havia acabado de receber um... besouro pelo correio, enviado por um colega australiano, com quem mantinha correspondência e troca de insetos.
Ao perceber a chegada da polícia, o homem assustou-se e rapidamente escondeu o inseto, colocando um jarro de flores sobre ele. O inspetor, que notou a manobra, afastou o vaso, segurou o inseto e olhou fixamente para o homem.
— O que significa isso? — perguntou.
Em vez de responder de forma simples e honesta, o que lhe seria mais favorável, o homem começou a gaguejar e a dar desculpas, numa atitude claramente suspeita.
A carta do entomólogo australiano tranquilizou parcialmente o inspetor, que, por precaução, decidiu vigiar o homem do bigode preto.
Com o passar do tempo, o clima de terror se espalhou pela cidade, e quase todos tinham receio de sair à noite. As ruas se tornavam desertas assim que escurecia. Alguns chegaram a abandonar a cidade, e muitos que não possuíam armas em casa correram para comprá-las...
Mais ou menos um mês depois, Mr. Gedeon chegou dos Estados Unidos. Ajustou seus negócios da melhor forma e estava absolutamente satisfeito.
Alberto não voltou à casa de Cora, apesar de seu grande desejo de ver a antiga namorada. O estudante a esperou na saída do Conservatório, a fim de explicar o mal-entendido com Rachel Saturnino e a razão pela qual tivera que marcar um encontro com ela. Agora que tudo já estava exposto, poderia fazê-lo sem prejudicar a situação. Porém, Verônica, geniosa como sempre, virou-lhe o rosto e, em voz alta, declarou:
— É inútil falar comigo, seu cafajeste... Seu fingido! Eu gosto de Mr. Gedeon e vou me casar com ele...
E saiu apressadamente, quase correndo.
Alberto percebeu que não havia mais solução e desistiu de segui-la, mais infeliz do que nunca. Verônica, sua adorável Verônica, apaixonada por Mr. Gedeon! Novamente imaginou o americano, belo e dominante como um xeque das Mil e Uma Noites, apertando a pequena cabeça da moça em seu peito largo. Em um ímpeto incontido, decidiu ir à pensão para saber mais sobre aquele homem que iria conquistar Verônica, a quem já detestava com todas as forças de seu ódio.
— Verônica Gedeon! — que nome tão antipático ela teria ao se casar!...
O rapaz sabia que a moça costumava ir a uma casa de chá com as amigas após as aulas, e calculou que teria tempo de conversar com a irlandesa antes que ela chegasse.
— Bem-vindo, Alberto! — disse Mrs. O'Shea. — O que há de novo? Se Marmaduke soubesse de toda essa história, não teria voltado para a Inglaterra. Vou escrever a ele pedindo que venha e fique comigo até prenderem o louco.
Alberto estava absorto, com o pensamento longe.
— Bonito homem esse tal Gedeon, não acha, Mrs. O'Shea? Um verdadeiro atleta...
Cora estranhou um pouco o comentário, mas rebateu:
— Não concordo com você... Para que servem aqueles ombros largos se ele não tem coragem de enfrentar dificuldade alguma? Nunca vi pessoa tão acomodada, tão covarde, tão frágil, espiritualmente falando... Mister O'Shea, meu marido, por exemplo, era magro, míope e mais baixo do que eu. Entretanto, era um homem de verdade! Ele assumia a responsabilidade das coisas e sabia resolver qualquer situação. Apesar de sua aparência insignificante, fazíamos questão de nos sentir protegidas e amparadas junto dele!
Ao ouvir isso, Alberto sentiu vontade de beijar a rechonchuda face de Mrs. O'Shea. Aquilo mesmo era Mr. Gedeon: um tolo, um fraco.
— Dona