WebNovels

Chapter 5 - HIPOPHENEMUS TOXICODENDRI

Bem cedo na manhã seguinte, Alberto, vestido com um avental branco, percorria a enfermaria do hospital em meio a outros estudantes. Acompanhado por um colega de óculos de tartaruga, começou a coletar sangue de um indigente que apresentava uma palidez alarmante, sugerindo anemia.

— Olha só essa hemoglobina, — comentou Alberto, examinando o sangue ralo e levemente rosado que preenchia a seringa. — Vamos checar a contagem de hematias.

Os dois amigos dirigiram-se ao laboratório, onde os estudantes iniciavam suas pesquisas clínicas. Alberto estava apaixonado pela Medicina; essa paixão tornava seu trabalho quase um prazer. Ele sentia uma forte atração pelo mistério, e a Medicina muitas vezes lhe parecia um intrigante romance policial. Para ele, o objetivo era claro: auxiliar o corpo afetado, descobrir o "culpado" pelos sintomas e combatê-lo, custasse o que custasse. Era uma batalha constante contra a Morte e seus cúmplices invisíveis, os micróbios e vírus. Além disso, havia uma razão mais profunda para sua escolha: a Medicina o colocava em contato com o sofrimento humano, permitindo-lhe aliviar a dor, uma alegria que ele considerava a mais pura que alguém poderia experimentar.

Ele tentava explicar isso a Rachel Saturnino, que frequentemente se irritava, respondendo:

— A vida é tão curta! O melhor é aproveitar cada momento ao máximo.

— Mas, — Alberto replicou, — o conceito de "aproveitar a vida" varia de pessoa para pessoa, não acha? O que é prazer para um, pode ser futilidade para outro.

Debruçado sobre o microscópio, examinava uma lâmina do sangue recém-coletado quando a porta do laboratório se abriu, revelando um dos médicos do hospital.

— Alberto, — chamou o médico, — meu assistente não veio hoje. Você poderia me ajudar com uma autópsia?

— Claro! — respondeu Alberto, deixando de lado o microscópio e seguindo o médico.

Ao descobrir o corpo coberto por um lençol branco, Alberto estremeceu. O jovem tinha uma cabeleira vermelha vibrante, muito semelhante à de seu irmão, Hugo.

— Quem é? Como morreu? — perguntou Alberto, preocupado.

— Ele faleceu subitamente esta madrugada. A família quer esclarecer a causa da morte. Parece que foi um colapso cardíaco.

Conforme a autópsia começava, um leve odor de amêndoas amargas começou a se espalhar pela sala.

— Cianeto de potássio! — exclamaram Alberto e o médico quase em uníssono.

Não havia dúvida: o jovem de cabelos vermelhos havia sido envenenado ou cometido suicídio com aquele tóxico. Era preciso confirmar essa suspeita com uma análise química.

— Antes de isolarmos o veneno, faremos um ensaio preliminar com a reação de Schoenbein, que é bastante sensível, — explicou o médico.

O resultado foi positivo, e uma nova análise com a reação do azul da Prússia confirmou a causa da morte: envenenamento por cianeto de potássio.

— Agora, precisamos informar o Serviço de Medicina Legal, — disse o médico. — Eu cuido disso, mas gostaria que você avisasse a família do rapaz.

Alberto deixou a sala, tirou o avental, vestiu um paletó e ligou para seu amigo, o Inspetor Pimentel, pedindo que o acompanhasse à casa do jovem de cabelos vermelhos.

Ao passar pela enfermaria, encontrou Nilza, uma enfermeira loira de nariz arrebitado.

— O que é isso, Alberto? Vai sair do hospital tão cedo? — perguntou ela, surpresa.

— Trabalho, minha filha, trabalho. Até mais!

Cora O'Shea quase desmaiou ao saber que seu filho havia sido envenenado. A hipótese de suicídio foi rapidamente descartada. Clarence, embora egoísta e insatisfeito, amava a vida e jamais faria algo assim.

— O cianeto age em segundos. Precisamos saber se ele comeu ou bebeu algo antes de cair, — disse o Inspetor, enquanto Cora tentava recordar.

— A cápsula! A cápsula! — exclamou, aflita. — Ele estava gripado e eu mandei preparar uma fórmula com aspirina. Ele tomou o remédio aqui, na sala, na presença de todos.

Cora contou que ele havia tomado duas cápsulas, uma pela manhã e outra à tarde, sem que nada tivesse acontecido.

— Deixe-me ver a caixa onde elas vieram, — pediu o Inspetor.

— Caiu no chão junto com ele e ficou jogada por aqui, — respondeu ela.

O Inspetor se abaixou e começou a procurar. Depois de alguns minutos, encontrou a caixa atrás de uma antiga arca na sala de jantar. Ainda havia três cápsulas dentro. O cheiro de amêndoas amargas característico do cianeto emanava da caixa. Após examinar as cápsulas, o Inspetor confirmou que elas continham aspirina.

— O veneno foi colocado apenas em uma delas, — concluiu. — A fórmula foi preparada na maior e mais respeitada drogaria da cidade. Será que o farmacêutico cometeu um trágico engano? Mas por que apenas uma cápsula continha o tóxico?

— Isso me cheira a crime premeditado, — afirmou o Inspetor. — Alguém aqui sabia da gripe do rapaz e do remédio que ele estava tomando. Mais tarde, após o enterro, investigaremos isso.

— A senhora se opõe a nos levar até o quarto do jovem? — continuou ele.

— O quê? — perguntou Cora, que era um pouco surda.

A pergunta foi repetida em tom mais alto, e a irlandesa, concordando, os conduziu até o sótão, que havia sido transformado em um agradável quarto, adornado com mapas e imagens de navios.

Sentada em uma poltrona coberta com tecido escocês, estava uma mulher pequena e delicada, com um ar decidido. Ela enxugava ocasionalmente as lágrimas com um lenço.

— Esta é Miss Verônica, — apresentou Cora.

Ao vê-la, Alberto sentiu uma estranha emoção. Seu coração acelerou, e ele se viu transportado para um mundo de irrealidade. Não conseguia determinar se ela era bonita ou feia, morena ou loura, gorda ou magra; a perturbação tomou conta dele.

Como que hipnotizado, ficou olhando para a jovem. Enquanto isso, o Inspetor examinava os detalhes do quarto de Clarence.

— Um besouro! — exclamou Alberto, segurando uma caixinha aberta que continha um pequeno escaravelho negro preso a uma rolha em cima da cômoda. A caixa era exatamente igual à que Hugo recebera na véspera de sua morte.

— Seu filho era entomologista? — perguntou.

— Não, Clarence recebeu isso ontem de manhã pelo correio. Deve ser uma brincadeira, — respondeu a senhora irlandesa.

Alberto sentiu um arrepio. Em sua mente, as imagens das cabeleiras vermelhas de "Foguinho" e de Clarence se misturavam, assim como as de dois besouros negros, ambos presos a rolhas.

— Posso ficar com esse inseto? — perguntou Alberto a Mrs. O'Shea. — Estou começando uma coleção.

— Claro, leve-o, — respondeu a mulher. Ele guardou a caixa no bolso, um tanto agitado, pediu licença e despediu-se.

Dirigiu-se a uma das bibliotecas da cidade e perguntou ao responsável da seção de História Natural:

— O senhor tem algum livro sobre besouros?

O atendente foi até uma estante e trouxe vários volumes sobre coleópteros, que Alberto examinou apressadamente. Não encontrou nada que se parecesse com o besouro que tinha. Então, teve uma ideia: enviaria o escaravelho ao Diretor do Museu de História Natural do Rio de Janeiro, pedindo que o fizesse chegar ao chefe da seção de entomologia para que classificasse o inseto.

Quinze dias depois, o besouro retornou, junto com a resposta: "Hipophenemus toxicodendri — (Hope)" da família "scolitidae".

— Toxicodendri... — repetiu Alberto em voz baixa.

Tudo aquilo parecia tão desconcertante! Ele gostaria que seus pais estivessem por perto para discutir os acontecimentos, mas talvez fosse melhor que estivessem longe. Sua mãe havia sofrido um abalo nervoso com a morte de Hugo e passado um mês em um sanatório. O médico havia aconselhado uma viagem longa para um lugar distante.

More Chapters