O Mestre Liang Hong, seu sorriso cruel mal cabendo no rosto desfigurado, fez um sinal para Shan Tao e Xu Jin.
"Muito bem. A primeira parte da lição está concluída. Agora, a segunda punição," anunciou o Mestre da Lâmina Negra.
"Levem-no para o Buraco dos Ratos. Três dias. Sem comida, sem água."
Fang Yan, ainda com as costas em carne viva e sangrando, não demonstrou surpresa ou medo. Ele estava satisfeito por ter forçado a mão do Mestre e, mais importante, por ter demonstrado a ele que a dor era irrelevante.
Dois discípulos se aproximaram para conduzi-lo. Fang Yan não resistiu, sua mente já estava focada no próximo desafio: o isolamento e a privação.
Eles o levaram para uma parte sombria do complexo da Seita. O "Buraco dos Ratos" não era um calabouço sofisticado, mas uma cela subterrânea fétida. A porta, feita de barras de ferro grosso, rangeu ao ser aberta.
Ao ser empurrado para dentro, Fang Yan avaliou o local com seus olhos frios e observadores. Era minúsculo, menor até mesmo que a cabana de seu avô. Cabiam no máximo três ou quatro pessoas apertadas; para ele, que precisava de espaço para pensar, era claustrofóbico.
Ele sentiu o cheiro de mofo, de sujeira e de detritos orgânicos. No canto, à sombra, ele notou a movimentação: ratos. Não eram os roedores comuns da fazenda, mas criaturas adaptadas à imundície da Seita, maiores e de pelo áspero.
A fome e a sede por três dias eram a ameaça real, não os roedores.
Sem água, sem comida, pensou Fang Yan, ignorando o ardor nas costas. Ele sabia que três dias de privação podiam quebrar a mente e o corpo.
E se...
Seus olhos fixaram-se nos ratos. Alimento. Cru? Não. As impurezas e doenças seriam um risco desnecessário. Ele precisava de fogo para higienizar a carne.
Ele começou a inspecionar a cela metodicamente. O chão estava coberto por uma camada espessa de feno sujo e mofado, o que tornava o local ainda mais insalubre. No entanto, o feno era combustível.
Com o cuidado de quem não pode desperdiçar energia, ele se abaixou e começou a juntar o feno, acumulando-o em um montinho seco em um canto.
Só preciso de calor, ele refletiu.
Ele varreu a cela com o olhar, procurando o que precisava. Sua inteligência aguçada, que se desenvolvia em ritmo vertiginoso, encontrou a resposta: em meio aos detritos e debaixo de um pedaço de madeira podre, ele notou um fragmento de vidro — talvez um espelho quebrado ou uma lente antiga.
Havia apenas um pequeno feixe de luz que penetrava a cela por uma abertura minúscula na parede.
Fang Yan se posicionou, usando sua mão trêmula para segurar o pedaço de vidro, e começou a direcionar o raio de sol concentrado diretamente para o topo do montinho de feno acumulado.
O processo era lento e exigia paciência e precisão implacável, algo que ele possuía em abundância. Os minutos se arrastaram.
O feno começou a soltar uma leve fumaça, um sinal de que o calor estava aumentando. Ele permaneceu imóvel, o corpo suportando a dor das feridas e a exaustão.
Até que, finalmente, a primeira brasa surgiu.
Fogo.
Uma pequena chama nasceu. Fang Yan soprou cuidadosamente, nutrindo o calor até que as labaredas estivessem estáveis.
Com a fonte de calor assegurada, ele agiu. Ele esperou, observando os ratos até que um se aproximou o suficiente da chama.
Com a velocidade de uma cobra, ele o agarrou. Com um rápido e eficiente movimento de torção, quebrou o pescoço do roedor.
Sem qualquer repulsa, ele começou a depenar o rato, puxando o pelo molhado e sujo. Segurando-o pela cauda, ele o estendeu sobre o fogo.
O calor começou a crepitar, chamuscando a carne. Ele não apenas estava cozinhando o alimento para torná-lo seguro e matar qualquer parasita, mas estava purificando-o.
O cheiro de pelo queimado e carne sendo aquecida encheu a pequena prisão, um cheiro de sobrevivência brutal.
A fome seria enfrentada. A inteligência de Fang Yan, mais perigosa que qualquer técnica marcial, havia garantido sua primeira refeição no que deveria ser um inferno de privação.
