Os anos se arrastaram, carregando consigo a memória daquele dia fatídico. A mancha onde o portal havia surgido no campo de treinamento permaneceu, estranhamente, inerte. A grama teimava em não crescer tão viçosa ali, e as árvores pareciam sussurrar segredos com o vento. Para Minato e Kushina, era um memorial constante à sua perda.
Minato, o Yondaime Hokage, continuou a liderar Konoha com a mesma competência estratégica, mas a alegria jovial que o definia havia sido substituída por uma seriedade sombria. Seus olhos, antes brilhantes, carregavam um peso, um luto perpétuo. Ele se atirava no trabalho com uma intensidade quase maníaca, revisando estratégias de defesa, treinando novos jutsus, tentando preencher o vazio com propósito. A cada diploma de Gennin que assinava, a cada jovem ninja promissor que via, uma pontada de dor o lembrava do filho que nunca teve a chance de se tornar um. Ele havia até mesmo comissionado equipes de busca e pesquisa, enviando ninjas para os confins do mundo ninja e além, atrás de qualquer lenda, qualquer indício de portais ou dimensões alternativas. Tudo em vão.
Kushina, outrora a "Habanero Sanguinário" de Konoha, a força viva e indomável, tornou-se mais contida. Sua risada vibrante era rara, e seus olhos, que antes brilhavam com paixão, agora carregavam uma tristeza profunda. Ela ainda era uma mãe amorosa para Narumi e Menma, mas o brilho em sua maternidade havia diminuído. Ela cozinhava as comidas favoritas de Naruto, esperançosa de que um dia ele voltaria, e deixava seu quarto intocado, como um santuário. A dor da culpa a perseguia: as vezes em que se impacientara com a incapacidade de Naruto, as expectativas que talvez ele nunca pudesse cumprir, o foco excessivo nos irmãos que possuíam o chakra que ele não tinha.
Narumi e Menma cresceram, tornando-se jounins respeitados e poderosos em Konoha, prodígios que honravam o nome Namikaze-Uzumaki. Mas a sombra de Naruto os seguia.
Menma, o mais orgulhoso, carregava o maior fardo. A arrogância se transformou em uma autocrítica severa. Ele se tornou um ninja implacável, focado em força e dever, mas com uma quietude que alarmava seus colegas. Ele se voluntariava para as missões mais perigosas, como se buscasse uma forma de penitência, ou talvez a morte que o libertaria da culpa. Cada vez que ele executava um jutsu perfeito, ele via o rosto de Naruto, o irmão que ele havia zombado por não possuir chakra. As palavras "Isso aqui não aparece do nada" ecoavam em sua mente como uma maldição. Ele tentava compensar a ausência de Naruto sendo o ninja perfeito, mas a perfeição não podia preencher o vazio.
Narumi, mais introspectiva, buscou refúgio na cura e no suporte. Ela se tornou uma talentosa ninja médica, uma herdeira da vontade de Tsunade, dedicando-se a aliviar o sofrimento dos outros. Ela era compassiva e gentil, mas a culpa silenciosa a impedia de alcançar a verdadeira felicidade. Ela se lembrava de suas tentativas desastradas de consolar Naruto, da superficialidade de suas palavras. "É só questão de prática, Naru." Ela desejava ter sido uma irmã melhor, ter defendido Naruto das brincadeiras cruéis, ter compreendido a profundidade de sua dor. Ela carregava a cicatriz de não ter visto o quanto Naruto a admirava, mesmo com toda a sua própria frustração.
Em Konoha, a história de Naruto tornou-se uma lenda triste, sussurrada pelos mais velhos. Para a nova geração de crianças, ele era uma figura quase mítica: o filho do Hokage que desapareceu misteriosamente, um ninja sem chakra que foi levado por uma força desconhecida. Alguns se perguntavam se ele era um fracasso tão grande que o próprio universo o havia rejeitado. Outros, mais sensíveis, sentiam pena da família que sofria em silêncio.
A vila, embora lamentasse a perda, seguiu em frente. O mundo ninja continuava a girar, com suas missões, ameaças e alianças. Mas para a família Namikaze-Uzumaki, o tempo havia parado um pouco naquele dia fatídico.
A ausência de Naruto havia redefinído quem eles eram. Minato era o Hokage que não conseguiu proteger seu filho. Kushina, a mãe atormentada pela culpa. Menma, o irmão assombrado pelo remorso. Narumi, a irmã que buscava redenção no serviço.
Eles eram fortes, sim, à sua própria maneira. Mas a ferida de Naruto era crônica, uma dor fantasma que persistia, um lembrete constante do que se perdeu. Eles olhavam para o céu noturno, para as estrelas distantes, perguntando-se se, em algum lugar, Naruto ainda existia. Eles não sabiam que, lá fora, em meio àquelas mesmas estrelas, o vazio que um dia o consumira agora se dobrava à sua vontade, e o garoto que não tinha chakra era agora o Deus da Criatividade. A ironia era cruel, e a verdade, se alguma vez revelada, seria esmagadora.