Folha no portão, Nome estranho em lábios lentos, Mundo se revela.
O tempo, naquela fase inicial e nebulosa da minha nova existência, não era medido pelo tique-taque de relógios ou pela virada de páginas em um calendário – conceitos que pertenciam a uma vida anterior e cada vez mais distante. Era medido em fragmentos de compreensão conquistados a duras penas. Cada som repetido que, após incontáveis audições, começava a se conectar a um objeto ou ação; cada rosto que passava de um borrão desconhecido para uma presença familiar, ainda que enigmática; cada padrão na rotina silenciosa e melancólica de Sanae que eu conseguia antecipar – eram pequenas vitórias, faróis bruxuleantes contra o nevoeiro espesso da desorientação. E a vitória mais significativa, aquela que pareceu finalmente abrir uma pequena fresta na muralha impenetrável que me separava deste mundo, foi aprender seu nome.
Konohagakure.
Sanae o repetia com frequência, sua voz suave carregando uma mistura de orgulho e talvez resignação. Apontava para fora da janela, para os telhados escuros que se aglomeravam sob a sombra da montanha imponente, ou traçava com o dedo o símbolo da folha que eu via bordado em algumas peças de roupa puídas ou gravado nas bandanas de metal usadas por figuras fugazes e silenciosas que às vezes passavam pela viela como fantasmas. Ko-no-ha-ga-ku-re. Cada sílaba era um desafio para minha língua infantil e descoordenada, um som estranho e gutural que eu tentava imitar em balbucios hesitantes, frustrantes em sua inadequação. Ela sorria com uma paciência infinita, um sorriso que não alcançava totalmente seus olhos tristes, repetindo devagar, seus lábios formando os sons com uma clareza exagerada, como se ensinasse um pássaro a falar.
Konoha. A versão abreviada, que ela também usava, parecia mais acessível, menos intimidadora. Eu a testava em minha mente, sentindo o peso da palavra, a ressonância das memórias que ela evocava – memórias de páginas de mangá, de cenas de anime, de discussões em fóruns online. Konoha. A Vila Oculta da Folha. O palco central de tantas histórias épicas, trágicas e complexas que agora eram, de alguma forma inexplicável e aterrorizante, a minha realidade. Dizer o nome em voz alta, mesmo que de forma imperfeita, um "K...nha" arrastado, parecia um ato de reconhecimento fundamental, uma aceitação relutante, quase forçada, do meu novo e indesejado lugar neste universo.
Minha crescente capacidade de entender palavras isoladas e frases simples – um processo agonizantemente lento de associação e repetição, mais parecido com decifrar um código alienígena do que com aprendizado natural – coincidiu com uma nova fase em minha existência confinada: as primeiras saídas supervisionadas para além dos limites da pequena casa e seu jardim negligenciado. Sanae, talvez percebendo minha curiosidade inquieta que se manifestava em olhares fixos e prolongados para a janela, ou talvez simplesmente seguindo uma rotina estabelecida para crianças sob seus cuidados (eu era órfão? Produto da guerra?), começou a me levar em passeios curtos. No início, carregando-me firmemente em seus braços, meu rosto pressionado contra seu ombro, oferecendo uma visão limitada e um cheiro reconfortante de tecido simples e chá de ervas. Mais tarde, quando minhas pernas desajeitadas ganharam alguma força, segurando minha mão pequena e suada enquanto eu dava passos vacilantes e trôpegos sobre a terra batida da viela.
O mundo exterior era um assalto sensorial, uma sobrecarga de informações que meu cérebro lutava para processar. As vielas estreitas e sinuosas, ladeadas por casas de madeira escura e paredes de barro claro, muitas exibindo sinais de reparos recentes ou danos ainda não consertados, fervilhavam com uma vida contida, mas persistente. O ar carregava uma mistura complexa e sempre mutável de cheiros: o aroma rico e gorduroso de comida sendo preparada em algum lugar próximo (peixe grelhado? caldo de missô?), o odor acre e onipresente de fumaça de lenha subindo de chaminés improvisadas, o cheiro de terra batida úmida após uma chuva noturna e, ocasionalmente, um cheiro metálico e asséptico, quase como ozônio, que eu começava a associar instintivamente aos ninjas que passavam rapidamente, suas presenças tão fugazes quanto o odor que deixavam para trás.
Nosso destino frequente era uma área mais aberta, uma praça poeirenta que parecia servir como o coração comercial e social do nosso distrito. Barracas improvisadas, montadas com estacas de bambu e toldos de tecido remendado, ofereciam uma variedade surpreendente de produtos: vegetais frescos da estação, peixes secos pendurados em fios, ferramentas agrícolas simples, cerâmica rústica e tecidos tingidos em cores sóbrias – índigo, marrom, verde musgo. As vozes dos vendedores apregoando suas mercadorias em tons cantados misturavam-se às conversas abafadas dos compradores, criando um burburinho constante que era ao mesmo tempo estimulante e avassalador para meus sentidos ainda em desenvolvimento e minha mente adulta sobrecarregada.
Era ali, no coração pulsante da vida civil da vila, que minhas observações se tornavam mais aguçadas, minha análise silenciosa trabalhando em alta velocidade. Eu notava a dinâmica sutil, quase coreografada, entre os civis ("Hito", como Sanae me ensinara) e os shinobi. Os ninjas, mesmo aqueles que pareciam mais jovens ou estavam claramente fora de serviço, moviam-se com um propósito diferente, uma autoconsciência em seus portes, um estado de alerta latente em seus olhares que os distinguia da população comum. Quando paravam em uma barraca – talvez para comprar suprimentos rápidos ou trocar algumas palavras com um informante disfarçado de comerciante? – os civis demonstravam um respeito cauteloso, quase subserviente. Um leve abaixar de cabeça, um desviar de olhar, um tom de voz ligeiramente mais formal, uma pressa em atender. Não parecia haver medo aberto, pelo menos não na superfície daquelas interações cotidianas, mas sim uma consciência aguda e internalizada da diferença de poder, da linha invisível, mas intransponível, que separava aqueles que empunhavam kunais e jutsus daqueles que dependiam deles para proteção (ou que talvez vivessem sob seu controle velado?).
Via mães civis puxando instintivamente seus filhos para mais perto quando um grupo de shinobi uniformizados passava em formação cerrada, suas sandálias levantando poeira. Via comerciantes oferecendo seus melhores produtos com um sorriso tenso, quase forçado, seus olhos evitando encontrar diretamente os do ninja. E via os próprios shinobi, muitas vezes absortos em suas próprias conversas ou claramente focados em alguma missão invisível, tratando as interações com os civis com uma eficiência educada, mas inegavelmente distante. Era uma coexistência complexa, uma simbiose desconfortável forjada pela necessidade mútua, pela história compartilhada de conflitos e pela estrutura militarizada inerente à própria existência de uma Vila Oculta.
Minha mente adulta, moldada em uma sociedade democrática e (relativamente) desmilitarizada, analisava essas interações com uma mistura de fascínio sociológico e profundo desconforto. As memórias da minha vida anterior, de um mundo onde as linhas entre civis e militares eram (geralmente) mais claras e reguladas, chocavam-se violentamente com essa realidade onde o poder militar não era apenas presente, mas intrinsecamente tecido na própria estrutura da vida cotidiana, visível em cada esquina, em cada olhar trocado.
Um dia, enquanto Sanae examinava alguns vegetais de raiz com um olhar crítico, negociando o preço em murmúrios rápidos com o vendedor, minha atenção foi capturada por um grupo de crianças um pouco mais velhas que eu – talvez cinco ou seis anos de idade – brincando em um canto mais tranquilo da praça. Elas corriam, gritavam, riam com a energia irrefreável da infância. E brincavam de ninja.
Usavam galhos robustos como se fossem katanas, atiravam pedras lisas com mira surpreendentemente boa, imitando o lançamento de shurikens. Faziam selos de mão desajeitados, os dedos pequenos se atrapalhando, e gritavam nomes de jutsus que eu reconhecia vagamente das minhas memórias do mangá – "Katon! Goukakyuu no Jutsu!", "Kage Bunshin!". Imitavam os heróis da vila, os protetores lendários, os guerreiros cujas histórias provavelmente eram contadas à noite para acalmar os medos da guerra recente. Para elas, era uma brincadeira inocente, uma fantasia escapista de poder e aventura em um mundo que, para os adultos, era muitas vezes cinzento e perigoso.
Para mim, foi como levar um soco no estômago. A dissonância cognitiva foi avassaladora, quase física. Aquelas crianças brincavam despreocupadamente com conceitos que, para mim, representavam perigo real, morte violenta, a perda de tudo que eu conhecia. Elas idolatravam figuras e poderes que eu temia e respeitava em igual medida, ciente do custo terrível que muitas vezes acompanhava tais habilidades. A inocência delas, em contraste com o conhecimento sombrio que eu carregava, parecia quase obscena, uma zombaria involuntária da minha situação.
Eles não sabem... pensei, um nó apertado se formando em minha garganta. Eles não têm ideia do que significa de verdade ser um shinobi neste mundo. Da dor, do sangue, dos sacrifícios... Ou talvez soubessem? Talvez a perda e a proximidade da morte fossem tão normais para eles, tão integradas à sua visão de mundo desde o nascimento, que brincar sobre isso era uma forma de lidar, de normalizar o medo, de exorcizar os fantasmas? A ideia era perturbadora em si mesma.
Desviei o olhar, incapaz de continuar assistindo àquela paródia infantil da minha nova e terrível realidade. Senti uma onda de isolamento ainda mais profunda me engolfar. Eu estava ali, fisicamente presente no meio deles, respirando o mesmo ar poeirento, mas não pertencia. Minha perspectiva estava irremediavelmente contaminada por um conhecimento que não deveria ter, por memórias de um mundo relativamente pacífico que tornavam este ainda mais chocante e brutal em comparação.
Sanae terminou suas compras, guardando os vegetais em uma cesta de vime. Ela pegou minha mão novamente. Sua palma era quente e calejada, um ponto de ancoragem físico na minha turbulência interna. Enquanto nos afastávamos do mercado barulhento, reuni toda a minha coragem e minha limitada capacidade vocal para tentar formar uma palavra, uma pergunta que queimava dentro de mim desde que vira o ninja no telhado.
"Shi... no... bi?" O som saiu hesitante, distorcido pela minha pronúncia infantil, quase um questionamento sussurrado.
Sanae parou por um instante, olhando para mim com uma surpresa genuína em seus olhos cansados. Então, um pequeno e raro sorriso tocou seus lábios, um sorriso que parecia conter uma compreensão silenciosa. Ela apontou para um ninja que passava ao longe, do outro lado da rua, sua bandana com o símbolo da folha brilhando sob o sol do meio-dia.
"Hai. Shinobi." Ela repetiu a palavra devagar, claramente, enfatizando cada sílaba. Então, com um gesto que pareceu abranger a si mesma, o vendedor de vegetais, as crianças brincando e os outros civis ao redor, ela disse outra palavra. "Watashi..." Ela fez uma pausa, procurando uma palavra simples que eu pudesse entender. "Hito." Pessoa. Povo. Os comuns.
Shinobi. Hito. Guerreiros e Pessoas. A distinção era clara em sua mente, fundamental em sua linguagem, na própria estrutura desta sociedade. Duas metades de Konoha, coexistindo em um equilíbrio tenso e complexo.
Enquanto caminhávamos de volta para nosso refúgio simples na viela silenciosa, as ruas começando a parecer um pouco menos desconhgecidas a cada dia, eu repetia as novas palavras em minha mente como um encantamento. Shinobi. Hito. Konoha. Eram peças cruciais de um quebra-cabeça imenso e assustador que eu estava apenas começando a montar. Aprender o nome da vila, ver seu povo e seus protetores interagindo, começar a balbuciar sua língua – nada disso diminuía o medo fundamental que eu sentia, mas dava-lhe forma, contorno.
O mundo estava se revelando, pouco a pouco, camada por camada, e com cada revelação, a necessidade de entendê-lo, de decifrá-lo, de encontrar meu lugar nele antes que ele me esmagasse, tornava-se mais premente, mais desesperadora.