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O templo de Khaeryon não era um lugar para crianças comuns. Mas Therys e Rhaziel não eram comuns.
Aos seis anos, deixaram a casa dos pais e foram levados por um homem chamado Vhaen. Não explicou muito, apenas disse que era hora. A mãe não chorou. O pai, sim — escondido, atrás da porta. Entregou a eles um pedaço de couro com seus nomes gravados à mão.
O templo ficava no alto das Montanhas de Dyrr. Era frio e silencioso, construído com pedras negras e pilares antigos marcados por runas. No centro havia o Salão do Equilíbrio — uma sala circular cercada por fogo de um lado e gelo do outro. As chamas ardiam sem consumir. O gelo brilhava sem derreter.
O velho Vhaen, que usava uma venda de prata nos olhos, os recebeu ali.
— Aqui, vocês aprenderão a conter — disse. — Não a destruir.
Rhaziel cruzou os braços.
— Meu fogo já é forte. Vi ele derreter pedra.
— E por isso você é perigoso — respondeu Vhaen. — E você, Therys?
O garoto hesitou, depois ergueu a mão. O ar ao seu redor se cristalizou, formando uma flor de gelo no vazio. Precisa. Imóvel. Quase viva.
O velho sorriu.
Treinaram todos os dias. Vhaen era paciente, mas firme. Seus métodos não envolviam gritos ou castigos — apenas repetições. Rhaziel odiava esperar. Queria correr, explodir, testar seus limites. Therys, ao contrário, aprendia calado, mas era lento nas decisões. Sua frieza tornava seus movimentos belos, mas hesitantes.
Em um dos treinos, Vhaen os colocou frente a frente em um campo de pedra, entre pilares. A regra era simples: cruzar o espaço sem ferir o outro.
Rhaziel correu primeiro. O calor saía de seus pés como brasas. Therys ficou parado, observando. Quando o irmão tropeçou no último pilar, uma faísca escapou de seus dedos. Reflexo.
Therys respondeu sem pensar: o gelo subiu como espinhos.
As duas forças se chocaram. Fogo e gelo se anularam no ar. Os dois foram arremessados para trás, ofegantes.
Vhaen nada disse. Apenas observou.
Quando se levantaram, algo havia mudado.
Nos dedos de Therys, o gelo era agora mais escuro, azul-profundo, denso como o das cavernas eternas. E os olhos de Rhaziel carregavam pequenas chamas que dançavam como se tivessem vida própria.
Naquela noite, dormiram separados.
Rhaziel encarava o teto de pedra.
— Ele podia ter me machucado…
Do outro lado, Therys olhava a janela congelada.
— Ele não quis. Foi instinto.
Não se falaram.
Mas Vhaen, sozinho, escreveu em seu diário:
"O fogo reage. O gelo observa. Quando aprenderem a agir juntos, nada será capaz de impedi-los."
E selou a página com um símbolo antigo: metade chama, metade floco de neve.