A praça central de Kellisar , cidade fronteiriça do reino de Vandhros , fervilhava com risos, conversas e aplausos. Bandeiras mágicas tremulavam no ar, marcando o início da Feira das Chamas, um festival onde aventureiros exibiam habilidades, vendiam artefatos e buscavam patronos nobres.
James mal acreditava que tinha retornado ali. Um mês após sua expulsão da guilda local, era o mesmo lugar onde fora chamado de inútil… e agora caminhava pelas bordas da multidão, olhos baixos, como uma sombra do que fora. Esgueirando-se pelas sombras como se tentasse não ser visto por aqueles que outrora, chamara de irmãos, porém descobriu da pior maneiro que o sentimento jamais fora recíproco.
O Coração de Myrkanis queimava em silêncio sob suas roupas. Como se sentisse o que estava por vir.
— "Ei, olhem só quem voltou! O homem que perdeu até a própria noiva!" — gritou alguém.
As gargalhadas foram instantâneas. James virou o rosto, mas era tarde demais. A multidão se afastava em um círculo, e no centro dele, como uma joia sobre o palco, estava Eleanor Vellmont .
Linda. Impecável. Vestida com um robe escarlate bordado a ouro. Ao seu lado, o arrogante Kael Meryon , jovem Arquimago e agora líder da guilda local.
Eleanor ergueu uma taça de vinho encantado, com o sorriso cruel que James conhecia bem demais.
— "James… Hunter, certo?" — disse, como se pensasse no nome pela primeira vez. — "Ou devo dizer… James Sem-Título? James Sem-Magia? James o Abandonado?"
O silêncio foi tão pesado quanto um feitiço de paralisia. James encarou-a, imóvel. O sangue fervia, mas os pés estavam fincados como raízes.
— "Eu poderia agradecer," ela contínua, girando a taça, "afinal, se não fosse por sua mediocridade, eu jamais teria conhecido alguém como Kael. Um verdadeiro homem de talento."
— "Você terminou comigo por ambição, Eleanor," disse ele por fim, sem elevar a voz.
— "Não, querido", ela respondeu com desdém. "Terminei porque acordei ."
A multidão riu. James fechou os punhos, sentindo os artefatos vibrarem sob a pele. A marca em seu peito ardia, suplicando para se manifestar — para que todos vissem quem ele realmente era agora.
Mas não. Ainda não. Ele não daria esse espetáculo para eles. Sua ascensão viria no tempo certo — e ninguém esqueceria.
Deu as costas sem dizer mais nada. A multidão o xingava, zombavam dele, chamava-o de covarde.
E Eleanor? Ela riu alto, satisfeita por tê-lo enterrado mais uma vez. Mas o que não percebeu, foi que, naquele momento, James jurava a si mesmo:
"Vocês verão o que enterraram... ressurgir como algo que nem os deuses poderão controlar."