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Chapter 1 - I'm a Angel

O trono sagrado estremece. A voz que sustenta os mundos se eleva como um trovão contido.

"Ouvi o clamor dos meus filhos no reino da Sagrada Esperança. Os demônios rompem fronteiras, abrem fendas e espalham a ruína. Designarei um anjo para esta missão."

Éramos milhões, anjos com corpos divinos feitos de luz, e entre todos eles, meu nome ecoava no brilho.

"Lael, tu serás a protetora. A força. A lâmina que acabará com a influência demoníaca enquanto um crente me invocar. Tu descerás em carne. Tu viverás entre eles."

Eu, Lael, fui a escolhida.

Não hesito.

"Sim, meu Senhor. Eu sou a tua lança. Para onde me enviares, eu irei."

A decisão sela tudo. Meu corpo divino se ilumina, vibra, implode. A luz se expande como uma supernova engolindo o céu.

*****

O bebê recém-nascido chorou alto:

"Uau! Uau!"

Finalmente nasci neste mundo. Um bebê simples, frágil, pequeno... mas capaz de ver e ouvir tudo, até mais do que qualquer ser humano comum.

"Ele é lindo!"

"Forte e grande como o pai!"

Os elogios vieram das empregadas. Minha mãe, emocionada apesar de sua fragilidade, me pegou no colo.

"Cuidarei muito bem de você, meu filho. Graças a Deus por me dar uma criança tão linda!"

Sou eu quem agradece a Deus por me permitir nascer em uma família de seus adoradores.

O rosto da minha mãe era encantador, com olhos tão claros quanto seus cabelos loiros. Logo meu pai apareceu, com um sorriso discreto nos lábios, acompanhado por meus três irmãos mais velhos, dois meninos e uma menina.

"Meu filho é forte e bonito como a mãe! Seu nome será Lael Ferguison, o caçula da família." Ele terminou com uma gargalhada sonora, a longa espada em suas costas indicando que era um espadachim experiente.

Eu já conhecia muito sobre este mundo humano. Minhas missões anteriores me ensinaram muito sobre ele. Agora, disfarçado de humano, eu cumpriria minha missão mais uma vez.

Alguns meses depois, aprendi mais sobre minha família e o reino da Esperança Sagrada.

Meus pais eram caçadores de baixa patente, enfrentando fendas dimensionais de onde emergiam monstros. Nos bastidores, demônios eram a causa disso, tentando destruir um povo tão devoto ao meu Deus.

Este reino era profundamente devotado ao meu Senhor e, por causa disso, suas ações malignas se intensificaram, sempre tentando corroer a fé.

"Ah!... não, não!" protestei, tentando voltar para o meu bercinho, mas minha mãe insistiu em me segurar.

"Ba ba ba!" Tentei me comunicar como qualquer bebê.

Eu já sabia falar, mas não podia quebrar as regras deste mundo nem revelar quem eu realmente era. Mesmo assim, estar nos braços da minha mãe me satisfazia. Ver a felicidade dela fortalecia a fé humana, algo que meu Senhor certamente aprovaria.

Meus três irmãos mais velhos correram pela sala, tropeçando nos próprios pés, gritando, rindo, fazendo a casa inteira tremer. Eric tinha cinco anos. Lian e Liany, as gêmeas, tinham dois. Minha mãe sentou-se na poltrona maior e me aconchegou perto do peito para me amamentar. Seu calor acalmava qualquer bebê comum. Eu apenas observava.

[Nome: Lael, a lança de Deus.]

[Natureza divina: Anjo da luz]

[Domínio: Luz. Tudo o que pedirdes ao Senhor, Ele vos concederá.]

[Missão: Colher os demônios no reino da Esperança Sagrada]

[Progressão do poder divino: 14%]

[Nota: A atividade demoníaca está aumentando em ritmo acelerado. Seu corpo humano ainda não consegue suportar a totalidade do seu poder.]

Quatorze por cento é pouco para o que preciso fazer. Mas é o que temos. A verdadeira missão começa com cem por cento.

A porta da sala de estar se abre com um estrondo abafado. Uma empregada entra ofegante, pálida, com a respiração falhando.

"Minha senhora Elira, Lorde Ferguison ficou ferido na última missão. Ele está no hospital."

A frase atinge minha mãe como um soco no estômago. Seus olhos se arregalam, ela me entrega rapidamente a outra empregada e sai correndo de casa sem conseguir pensar direito. Meus irmãos congelam, depois começam a chorar, sem entender nada, apenas sentindo sua urgência e medo.

Fecho os olhos por um segundo e uma visão divina rasga a distância como se fosse papel fino. Sigo minha mãe enquanto ela corre pelas ruas, cada passo seu tremendo em minha visão como luz em movimento.

Ela chega ao hospital. Para à porta. Respira fundo. Sua mão treme ao empurrar a maçaneta do quarto do meu pai.

Eu vejo tudo. A poucos milímetros da verdade.

Assim que ela cruza a porta do quarto, minha visão divina se estilhaça como vidro. O mundo humano perde a nitidez. Atrás do corpo ferido do meu pai, uma presença surge.

Um espírito demoníaco, de forma humanoide, com quatro braços longos e olhos carmesins que brilham como carvão em brasa, me encara à distância como se eu estivesse bem diante dele.

Sua voz rasga o silêncio, profunda, gotejando veneno.

"Então você é a enviada, Lael. Lamentável. Presa no corpo de um recém-nascido."

Só me surpreende a audácia de alguém tentar me pegar desprevenido.

Nada mais que isso. Não vacilo. Não hesito. Eu sou a lança. A lança não recua. A lança não teme quando conhece a fonte de sua própria força.

A luz explode dentro de mim e atravessa o espaço. O choque atinge o demônio em uma explosão silenciosa, em um plano espiritual que nenhum humano ali presente poderia perceber. O corpo físico do meu pai permanece imóvel, mas no campo onde a verdade acontece, a criatura cambaleia por um instante.

Vejo a preocupação cruzar seus olhos carmesins. Então eu falo.

"Furgur, demônio das pragas e doenças. Tu és a podridão por trás desta miséria. Sou limitado como um recém-nascido, sim. Mas posso todas as coisas por meio Daquele que me fortalece."

Ele dá um passo para trás e diz:

"Sempre devoto. Mas você acredita que nos destruirá como antes? Acha que viver como ser humano é simples?"

Sua forma começa a se desfazer, um borrão de sombra puxado para trás por sua própria essência.

"Por ora, retiro o meu interesse. Mas preste atenção, Lael. Nossa disputa está apenas começando."

Após o confronto, noto o corpo do meu pai se fortalecendo quase milagrosamente. Minha mãe observa, assustada e aliviada. Eu, porém, permaneço imerso em pensamentos, refletindo sobre as palavras de Furgur: posso realmente viver como um ser humano?

*****

Observo meus irmãos brincando, sinto a babá ajustando minha fralda. A consciência da fragilidade do meu corpo me incomoda, mas não me intimida. Falo comigo mesma, com firmeza:

"Estou num corpo humano, limitado e vulnerável, mas isso não muda quem eu sou. Viverei segundo a vontade do Senhor. Mesmo que seja para trilhar o caminho humano."

Por anos, que assim seja. Se for para falhar ou perecer, que assim seja. Afinal, eu sou Lael, a lança divina."

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