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Chapter 22 - Capítulo 22 — O Mundo dos Mortos

Depois daquela batalha, Chen Shi estava exausto e sonolento. Sentou-se na carroça e acabou cochilando. Quando acordou, a carroça de madeira já havia chegado à Vila Huangpo.

O avô começou a preparar e ferver as ervas medicinais, indo e vindo a noite inteira. Só perto da meia-noite o remédio ficou pronto.

Chen Shi bebeu uma bacia inteira da poção e depois mergulhou no barril de ervas. Dentro da água quente, foi adormecendo aos poucos.

Felizmente, aquela noite passou em paz — sua velha doença não voltou.

"Será que... eu já estou curado?"

Ao acordar pela manhã, Chen Shi ficou radiante. Até achou que o café da manhã preparado pelo avô não estava tão ruim quanto de costume.

E, para sua alegria, o avô havia cumprido a promessa feita antes de ir à cidade: trouxe guloseimas deliciosas — maçãs-do-amor, bolinhos de arroz, tofu fedido e figuras de açúcar —, o que deixou Chen Shi sorrindo de orelha a orelha.

"O remédio do avô funciona, e cultivar a Energia Pura dos Três Brilhos também! Talvez eu consiga mesmo me curar!"

Sonhando com um futuro melhor, Chen Shi se dedicou ainda mais. Depois de prestar respeitos à madrinha, começou a cultivar a técnica da Energia Pura dos Três Brilhos, usando o poder das Sete Estrelas da Ursa Maior para fortalecer o corpo.

O dia passou produtivo. À noite, tomou mais do remédio, mergulhou no banho de ervas e cultivou por um tempo antes de deitar para dormir.

Ninguém sabia quanto tempo dormiu, mas de repente uma dor lancinante explodiu em seu peito — uma agonia tão forte que parecia que seu coração estava sendo esmagado!

Chen Shi acordou assustado. Sabia que sua velha doença no coração havia atacado de novo. Tentou se levantar e ativar a Energia Pura dos Três Brilhos para resistir...

Mas a dor era insuportável, drenando todas as forças. Seu coração parecia comprimido numa bola, e o sangue parou de circular pelo corpo.

Tentou respirar — mas o ar não vinha.

Era como se mãos espectrais e azuladas tivessem espremido o ar para fora de seus pulmões.

"Avô! Avô!"

O terror tomou conta dele. Abriu a boca, mas nenhum som saiu.

Ainda era noite. O avô provavelmente não estava em casa e não perceberia o perigo.

"Preto! Preto!"

Quis chamar o cachorro, mas também não conseguiu emitir som algum. No pátio, o cachorro Preto levantou a cabeça, ouviu algo, mas balançou as orelhas e voltou a dormir.

A visão de Chen Shi começou a escurecer — primeiro o teto, depois a lua, depois tudo ao redor.

Suas pálpebras pesavam, o corpo tremia descontrolado, como um peixe agonizando fora d'água.

Deu dois espasmos fortes na cama e depois ficou imóvel. Os braços e pernas ainda se contraíam de vez em quando, mas cada vez mais devagar... até que, por fim, tudo parou.

O silêncio.

Então, uma tênue luz surgiu na escuridão diante de seus olhos.

Chen Shi abriu os olhos — e se viu cercado por uma névoa espessa e leitosa. De longe vinham gritos e uivos de dor — alguns pareciam humanos, outros soavam como bestas feridas.

Arregalou os olhos, tentando enxergar algo, mas a névoa não deixava ver nada.

"Avô!" gritou.

"Avô!... Avô!..."

De dentro da névoa vieram ecos — muitas vozes chamando por "avô", vindas de todas as direções. Ele não sabia se eram ecos de sua própria voz... ou outra coisa.

O medo o envolveu por completo. Sabia que deveria ficar parado e esperar o avô vir procurá-lo, mas seus pés começaram a andar sozinhos.

Seu corpo parecia leve — leve demais, como se não existisse. A névoa era feita de partículas brancas e finas como areia fria, atravessando-o sem peso algum.

"Eu... provavelmente morri." pensou, triste.

Então, passos se aproximaram. Na névoa, uma silhueta feminina surgiu — uma jovem de rosto pálido, olhar perdido.

Seu pescoço estava coberto de sangue, e a cada passo, o ferimento se abria, jorrando mais e mais vermelho até manchar toda a roupa.

Ela abriu a boca, tentando falar, mas Chen Shi não ouviu som algum.

A cabeça dela tombou — caiu no chão com um baque surdo.

A mulher se agachou e começou a tatear o chão, tentando achar a própria cabeça.

Logo, o som de seu choro ecoou pela névoa.

Após um tempo, ela encontrou a cabeça, recolocou-a no pescoço e, em silêncio, começou a caminhar atrás de Chen Shi.

Pouco depois, outro vulto surgiu: um homem gordo e rico, coberto de joias e roupas finas. Mas agora estava em frangalhos — o corpo cheio de facadas ainda sangrando.

Do abdômen pendiam as entranhas, arrastando-se pelo chão enquanto ele as segurava com as duas mãos.

E, mesmo assim, continuou andando, juntando-se à pequena procissão.

Chen Shi caminhava atordoado pela névoa, vendo cada vez mais figuras — pessoas mutiladas, queimadas, dilaceradas, de todas as formas possíveis de morte.

Mas curiosamente... não sentia medo. Já havia visto fantasmas demais.

"Com certeza morri." pensou. "Morri de dor no coração, e o avô não percebeu. O Preto também não. Quando me encontrarem amanhã, vão ficar tão tristes..."

Pensou no próprio rosto — 'Tomara que não esteja muito feio. Não quero ver o avô chorar.'

À frente, uma fila enorme se estendia até o infinito. Homens e mulheres caminhavam mecanicamente pela névoa, sem rumo, sem destino.

Chen Shi se juntou àquela multidão de mortos.

Mais e mais pessoas vinham, até que se formaram várias filas — três, quatro, cinco — todas se movendo em silêncio.

Era estranho: tantos corpos, mas nenhum som de passos, nem murmúrios, nada.

Somente, de tempos em tempos, um grito horrendo distante, vindo de algum ponto da névoa.

De repente, uma garra gigantesca surgiu do nevoeiro — ossuda, coberta de escamas — agarrou uma pessoa e a puxou para dentro. Logo, ouviu-se o som de mastigação.

"Hi hi hi..."

Uma risada aguda ecoou.

O medo apertou o peito de Chen Shi. Mas os outros mortos continuaram andando, indiferentes.

Mais garras apareceram, vindas de todas as direções, puxando pessoas e engolindo-as na névoa. Os sons de mastigação e risadas se multiplicaram.

Parecia um banquete — um festim devorador em meio à névoa. E eles, os caminhantes, eram os pratos servidos.

Chen Shi tentou parar, mas suas pernas não obedeciam. Continuavam se movendo sozinhas, passo após passo.

A cada segundo, mais "comensais" surgiam na névoa. As risadas aumentavam, as garras se multiplicavam.

Uma delas veio direto em sua direção. Ele quis desviar — mas seu corpo não respondeu.

Estava prestes a ser agarrado quando, de repente, soou o toque de um tambor — dong... dong... — grave e rouco, como um velho gongo rachado.

A garra recuou assustada.

"Chen Shi!"

Uma voz chamou seu nome, acompanhada do som do tambor e de um leve aroma de incenso.

"Xiao Shi!"

Desta vez, ele reconheceu claramente — era a voz do avô! O som do tambor ficou mais nítido.

"Avô!" gritou, chorando.

"Xiao Shi, siga o som!"

Reunindo toda a força, Chen Shi lutou para parar de andar e se virar. Cada passo contra o fluxo parecia pisar em lâminas, atravessar fogo. As pernas doíam como se estivessem sendo rasgadas.

Mas seguiu o som. O tambor ecoava, e o cheiro do incenso o guiava. Quando o som e o aroma enfraqueciam, ele perdia o rumo; quando voltavam, ele retomava o caminho.

Ao redor, multidões continuavam marchando. Ele era o único indo na direção contrária, sendo empurrado, tropeçando, caindo — mas não desistiu.

O tempo passou sem medida. Ainda não havia saído da névoa. As garras continuavam caçando, e a cada momento parecia que seria sua vez.

Até que, de repente, o chão tremeu. Algo gigantesco avançava na névoa, soltando fumaça pelas narinas.

Uma sombra colossal rompeu o véu branco — uma criatura negra como a noite.

Quando se aproximou, Chen Shi viu claramente: era um cachorro preto — igual ao Preto, mas do tamanho de uma montanha.

"Preto... é você?"

A fera rugiu. Seus olhos brilhavam em fogo. Avançou e mordeu uma das garras que o atacava, arrancando-a com um estalo seco. Depois farejou o ar — o incenso — e virou a cabeça para Chen Shi.

"Uff! Uff!"

O gigante Preto abanou o rabo, gerando ventos furiosos. Abaixou-se, convidando Chen Shi a subir. Assim que ele se agarrou ao pelo, o cão disparou em corrida desenfreada.

Dong! Dong!

O som do tambor ficou cada vez mais alto, o chamado do avô mais próximo. A luz à frente cresceu, branca e intensa, ofuscante.

Chen Shi levantou o braço para cobrir os olhos.

Então ouviu uma voz alegre:

"Ele acordou! Xiao Shi acordou!"

Piscou algumas vezes até se acostumar com a luz. Estava em um cômodo estranho e escuro, cheio de fumaça de incenso. As paredes estavam negras de fuligem.

Numa esquina, uma velha de cabelos brancos batia suavemente um pequeno gongo, de onde vinham aqueles sons metálicos misturados ao ruído áspero de areia.

No chão, um enorme braseiro queimava papéis talismânicos. As chamas subiam altas, quase do tamanho de uma pessoa.

Atrás do fogo, um cachorro preto estava agachado — seus olhos refletiam o fogo como brasas. Do nariz saía fumaça quente. Era o Preto.

Do outro lado do braseiro, o avô estava sentado. Acima de sua cabeça flutuava uma esfera onde água e fogo se entrelaçavam.

"Que lugar é este?" pensou Chen Shi, confuso.

Agradecimentos ao apoiador Aixinjueluo Shengjie! Que o patrão viva mil anos!

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