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Chapter 7 - Capítulo 7 – O poder dos deuses do campo não supera a lei do rei

Todos os olhares se voltaram para a antiga olmeira no centro da vila.

Liu Zexi havia se sacrificado, mas claramente não era apenas para se enforcar sob a árvore. Seus pensamentos finais, certamente, não foram de "paz e prosperidade para todos".

E sim — vingança.

Vingança contra aqueles que o levaram àquela miséria.

Como não tinha poder para se vingar, ele se ofereceu como sacrifício à poderosa "Madrinha", esperando que ela, com suas forças divinas, o vingasse.

E os alvos de sua vingança estavam bem diante deles — os oficiais do condado de Xinxiang.

Chen Shi olhou para o pequeno templo diante da árvore. A garotinha ainda estava ali dentro, sentada, comendo alegremente as oferendas, indiferente à tensão do lado de fora.

O chefe dos oficiais, porém, não via a menina. Seu olhar estava fixo na árvore antiga, e ele riu friamente:

"Se a tal Madrinha pretende vingar Liu Zexi, então está se opondo ao governo de Xinxiang — e, portanto, ao Império Ming! O poder dos deuses do campo não supera a lei do rei. Assim que a lei do Império for aplicada, destruir essa Madrinha será coisa fácil. Quando isso acontecer, sem a proteção dela, todos de Fangdian estarão expostos aos olhares do mal — e não haverá salvação!"

O coração de Chen Shi tremeu. Aquele oficial ousa ameaçar a Madrinha de Fangdian!

Ele olhou novamente para a garotinha, que continuava comendo as oferendas, completamente alheia ao que acontecia.

"Sim… entre vingar Liu Zexi e proteger os outros aldeões, a Madrinha certamente saberá o que pesa mais."

O chefe dos oficiais, vendo que a velha olmeira permanecia imóvel, sorriu levemente e perguntou:

"Liu Zexi está morto, mas mesmo morto ainda deve pagar impostos — é o que diz a lei. Onde estão os outros da família dele?"

Um aldeão respondeu:

"Não há mais ninguém. Ele tinha um filho e uma filha — a menina foi vendida, o menino se afogou no rio. A esposa enlouqueceu e um dia saiu cantando e dançando pelo vilarejo… nunca mais voltou. Provavelmente também morreu."

O chefe dos oficiais ponderou um momento, depois acenou com a mão:

"Os mortos já pagaram o preço, não vamos caçar velhas dívidas. Mas o imposto precisa ser recolhido. Homens, peguem o que tiver valor na casa de Liu Zexi, temos que prestar contas."

Os oficiais invadiram a casa, mas o lugar era miserável — paredes nuas, quase nada além de panelas e tigelas. Recolheram o que puderam, talvez valesse algumas moedas.

O chefe balançou a cabeça:

"Lamentável… Isso mal cobre o buraco. Ainda teremos que tirar dinheiro do cofre da prefeitura. E o povo ainda diz que nós, servidores, só sabemos extorquir… um grande mal-entendido!"

Ele suspirou e se levantou devagar:

"Esse imposto é cobrado pelo Império, não por nós. Se um único cobre desses ficasse em nossos bolsos, que o trovão me parta! Ao contrário — se o valor não for completo, nós mesmos temos que pagar a diferença, senão é traição ao trono! Não se preocupem, boa gente."

Olhou em volta, sorrindo:

"Então paguem seus impostos em paz. Nada de pegar facas por bobagens. Liu Sanyin, tire essa faca do meio das pernas antes que acabe se cortando!"

Passou pelos aldeões como se fossem invisíveis, e disse alto:

"Meus irmãos aqui são todos eruditos que passaram nos exames do condado. Cada um cultivou o 'Feto Divino' concedido pelo Verdadeiro Deus! Vocês não têm chance contra nós — então baixem as armas. Vamos conversar."

Atrás dele, os oficiais ativaram suas técnicas de Qi da Retidão Celestial. Raios de luz sagrada cercaram suas cabeças, formando pequenos altares onde seus Fetos Divinos se assentavam, solenes e radiantes.

Os aldeões de Fangdian ficaram pálidos e, um a um, baixaram suas facas e machados.

O chefe fez um gesto, mandando os oficiais irem de casa em casa recolher os impostos, enquanto caminhava até a barraca de talismãs de Chen Shi e seu avô.

O velho já havia preparado o dinheiro e entregou, dizendo:

"Lorde Lu, sempre tão imponente."

O chefe, chamado Lu Tiannan, parecia conhecer bem o avô. Recebeu o pagamento e riu:

"Não ouso tanto — apenas cumprindo o dever imperial. O velho Chen ainda parece forte, acho que terei de cobrar de você por mais alguns anos."

De repente, ele franziu o nariz. Um cheiro leve, mas pútrido, fez seu corpo gelar. Cheiro de cadáver!

Seu olhar pousou sobre Chen Shi e sua expressão mudou.

"Velho Chen… esse é o garoto? Aquele prodígio número um entre as cinquenta províncias, anos atrás?"

O avô permaneceu em silêncio.

Lu Tiannan recuou alguns passos, medindo o jovem de cima a baixo, depois riu de nervoso:

"Incrível, velho Chen, simplesmente incrível! Roubar os segredos do Céu e da Terra — o impossível, e você conseguiu! Mas cuidado para não quebrar a lei… se cair nas minhas mãos, não terei piedade."

Virou-se e foi embora.

Chen Shi ficou confuso:

"Esses da Seis Portas… parece que têm medo de mim. Vovô, eu fui mesmo o primeiro entre cinquenta províncias?"

"Passado é passado."

O avô abriu um papel amarelo, pegou tinta vermelha e o pincel. Chen Shi desceu da carroça e trouxe as placas de pêssego e o bloco de jade. O avô pegou uma faca, fez sinal para o cachorro preto se aproximar.

"Pshh!"

O velho deu uma leve facada no cão, que choramingou, enquanto Chen Shi recolhia o sangue em uma tigela. Depois, o avô jogou um pedaço de carne de fera para o animal, que se arrastou para baixo da carroça — comendo e lambendo o ferimento ao mesmo tempo, entre dor e prazer.

Avô e neto continuaram no mercado, desenhando e vendendo talismãs.

Enquanto isso, os oficiais percorriam as casas, recolhendo os impostos, e o vilarejo mergulhava em choro e desespero.

Ainda assim, mesmo em tempos amargos, há quem procure um pouco de sorte — e muitos compraram talismãs.

Depois de horas, o cachorro latiu duas vezes. O avô ergueu o olhar e disse:

"O céu está escurecendo. Hora de ir."

Chen Shi olhou para o céu — ainda havia dois sóis brilhando, sem sinal de ocaso.

Eles recolheram as coisas e seguiram com a carroça para fora da vila. Chen Shi olhou para o templo diante da olmeira; a menina ainda estava lá, serena, sentada sobre o altar.

Enquanto isso, os oficiais carregavam os impostos — quatro carroças cheias. Prendiam amuletos de velocidade nas patas dos cavalos.

"Andem logo! Quero estar de volta antes de escurecer!" — gritou Lu Tiannan.

"Mas ainda é cedo, chefe! Dá tempo!" — disse um dos homens.

Lu Tiannan balançou a cabeça:

"Aqui não é a cidade. Na cidade, à noite, não há demônios. Mas no campo… há muitos. Poucos podem nos ferir, é verdade — mas prudência nunca é demais."

A carroça de Chen Shi seguiu por seis ou sete li. De repente, o avô olhou para o céu e empalideceu:

"Algo está errado! O entardecer chegou um quarto de hora mais cedo!"

Chen Shi levantou os olhos — os dois sóis estavam se fechando como pálpebras, tornando-se ovais.

Os olhos do Deus Verdadeiro estão se fechando — a noite se aproxima!

"Será que o cachorro errou o tempo de novo?" — murmurou Chen Shi.

"Pode ser. O sol não se põe adiantado… então o erro é dele." — disse o avô.

O cachorro uivou, ofendido.

"Vovô," disse Chen Shi, "esse cão não serve mais. Mas ainda está fresco…"

"Se errar de novo," respondeu o avô, "vamos fazer ensopado."

O cachorro abaixou o rabo, lamentando sua triste existência.

Em poucos instantes, o céu se incendiou em chamas de crepúsculo. Por mais que corressem, não chegariam a tempo à Vila Huangpo.

Chen Shi olhou em volta e apontou:

"Ali! Um templo!"

De fato, havia um morro com um templo antigo e em ruínas.

"Você se lembra de ter visto esse morro quando viemos?" — perguntou o avô.

Chen Shi pensou e se espantou:

"Não! Aqui era plano… essa colina não existia!"

Parecia que o monte — e o templo junto — haviam brotado do chão!

"Vamos passar a noite lá."

Com o compasso na mão, o avô guiou a carroça até o templo. O lugar estava caindo aos pedaços — telhado furado, pilares quebrados, pedras caídas.

O velho tirou o tinteiro e a faca. O cachorro, resignado, se aproximou e levou outra picada antes de ir comer num canto.

Chen Shi recolheu tábuas e pregos, tapou portas e janelas. Arrastou até uma pedra enorme e a empurrou sozinho para trancar o portão — surpreso com a força que tinha.

Depois saltou, alcançando quase o topo do templo.

"Se consigo pular tão alto, consigo cair sem morrer também."

Rapidamente tapou os buracos do telhado antes do anoitecer.

O avô pendurou talismãs nas portas e janelas, depois preparou uma fogueira. O "jantar" era um caldo de ervas e venenos comprados no mercado.

De repente, ouviu-se barulho de rodas e cavalos. Chen Shi olhou pela janela — a lua brilhava fria, e os oficiais se aproximavam com as quatro carroças.

"Chefe, algo está errado!"

"É cedo demais pra noite cair! Não voltaremos a tempo. Voltamos pra Fangdian?"

Mesmo cultivadores do Reino do Feto Divino sabiam o perigo das noites no campo — certos espíritos malignos podiam matá-los com facilidade.

Lu Tiannan hesitou, mas ao ver o templo, sorriu:

"Ali tem abrigo. Passaremos a noite lá."

Os oficiais concordaram e seguiram para o templo.

Chen Shi observava da janela, e à luz da lua viu — atrás das carroças — uma pequena figura se aproximando, mordendo uma maçã vermelha.

A garotinha do templo de Fangdian… a Madrinha!

Antes que pudesse reagir, um dos oficiais à frente se enrijeceu como se tivesse câimbras, o corpo arqueado para trás.

Então — puff, puff! — galhos afiados atravessaram seu peito, florescendo sangue.

"Emboscada!"

Lu Tiannan foi o primeiro a reagir, ativando seu altar e o Feto Divino. Mas incontáveis galhos se ergueram como serpentes negras sob a lua. Um deles atingiu sua testa — ele recuou, mas sentiu a dor lancinante nas costas e ouviu o som de ossos quebrando. Olhou para baixo — galhos ensanguentados haviam perfurado seu peito!

"Rápido demais!"

O sangue inundou-lhe a garganta, escorrendo pela boca.

Em poucos instantes, dezenas de oficiais e cavalos jaziam mortos, suspensos no ar por ramos quase invisíveis.

A garotinha caminhou sobre os galhos, silenciosa como a lua, mordendo a maçã.

Parou diante de Lu Tiannan e o encarou.

"A Madrinha nunca ignora o desejo de seus filhos… especialmente dos que se oferecem em sacrifício."

Ela assentiu levemente.

"Sim, são vocês. Não matei por engano."

Os galhos recuaram, e os corpos caíram pesadamente no chão.

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