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Chapter 3 - Capítulo 3 – Domínio dos Fantasmas e Deuses

O Domínio dos Fantasmas e Deuses — assim os cultivadores chamavam certos lugares misteriosos e ilógicos. Regiões assim seguiam regras estranhas, desafiando a razão.

Nos arredores da capital da província de Xinxiang, havia um lugar chamado Vila Huixing, famoso por ser um desses domínios.

Quem entrava em Huixing ficava preso em um ciclo interminável, repetindo o mesmo dia indefinidamente, sem jamais conseguir sair — até morrer.

Em Condado de Nanmen, outro domínio fazia com que todos que o adentrassem se transformassem em figuras de papel; mesmo os mais poderosos cultivadores nada podiam fazer.

Esses lugares, no entanto, já eram conhecidos por todo o império — terras notoriamente fatais.

Mas o vilarejo de Huangpo, um simples povoado sob a jurisdição de Xinxiang, também abrigava um domínio tão perigoso — e, ainda assim, ninguém jamais ouvira falar dele.

"Maldito demônio de Xinxiang, pequeno miserável sem vergonha!" rosnou a mulher de roupas roxas.

Enquanto pensava nisso, os guardas de uniforme bordado que a seguiam entraram em pânico. Alguns ativaram feitiços tentando restaurar o corpo original; outros correram para trás, acreditando que bastaria sair do domínio para se recuperar.

Alguns, desesperados, tropeçaram, e ao cair, seus corpos de porcelana se despedaçaram em mil fragmentos.

"Não fujam!" gritou a mulher. "Ouçam minhas ordens!"

Aos poucos, o grupo se recompôs, reunindo-se novamente. Todos olharam para ela, aguardando instruções.

A mulher respirou fundo e disse com firmeza:

"Se este lugar é um domínio dos fantasmas e deuses, então viemos ao ponto certo. Aqui deve estar o lendário Túmulo do Verdadeiro Rei…"

Nesse momento, a voz de Chen Shi ecoou à frente:

"Irmã mais velha, por que vocês estão demorando? O ninho dos bonecos de porcelana fica logo aqui!"

Os olhos da mulher cintilaram. Seguiu o som e viu, atrás de um monte de terra, uma pequena cabeça espiando — era Chen Shi. O rosto inocente e o olhar puro contrastavam com qualquer ideia de malícia.

'Ele é só uma criança… talvez eu tenha julgado mal.'

Um leve arrependimento surgiu em seu coração. Chegou a imaginar Chen Shi como um manipulador cruel, esquecendo que ele tinha apenas uns dez anos de idade.

Mas ao observá-lo com atenção, algo lhe chamou a atenção — ele também havia se transformado em um boneco de porcelana!

'Então ele já esteve aqui antes… Se é assim, ele deve saber como voltar a ser humano!'

"Capturem-no!" ordenou ela de repente. "Agora!"

O grupo avançou. A floresta começou a se abrir, e o caminho revelou inúmeros montes de terra, grandes, redondos e queimados por dentro, como antigos fornos de cerâmica.

Entre eles, espalhavam-se enormes jarros de barro, alguns quebrados, outros intactos, tão altos que superavam em quatro ou cinco vezes a altura dos próprios bonecos. A visão era opressora.

Enquanto perseguiam Chen Shi entre os jarros e os fornos, a mulher começou a observar melhor o ambiente. Subitamente, um arrepio percorreu sua espinha.

"Não…" murmurou, os olhos arregalando-se. "Isto não é um túmulo real. É… uma olaria! Um antigo forno de cerâmica!"

Pensamentos caóticos invadiram sua mente.

'Por que uma simples olaria de vilarejo se tornou um domínio dos fantasmas e deuses? De onde vieram todas essas porcelanas? E o que ele pretende trazendo-nos até aqui?'

Antes que pudesse concluir, Fang He gritou adiante:

"Perdemos ele… espere, há alguém ali! São os bonecos!"

A mulher correu e viu os mesmos bonecos que haviam brincado no riacho, agora escondidos nas sombras de um forno rachado, tremendo de medo.

Um deles acenava repetidamente, como se pedisse que se afastassem.

"Hah!" riu um dos guardas. "Esses pestinhas estão com medo de nós!"

De súbito, a mulher empalideceu.

"Não! Eles não têm medo de nós — e sim de outra coisa! Recuem, agora!"

O chão tremeu violentamente. O céu escureceu. Um vento furioso varreu o ar.

Do meio da escuridão, três gigantes vestidos com roupas acinzentadas caminharam na direção deles.

Eram magros e altos, com mais de três metros de altura, e considerando que o grupo agora tinha menos de um palmo de estatura, os gigantes pareciam montanhas vivas.

Seus rostos eram lisos, como se moldados em argila. Sem expressão, moviam-se com passos lentos, mas cada movimento levantava ventos frios e cortantes.

Vendo os intrusos, um dos gigantes estendeu a mão para agarrá-los.

O grupo fugiu em desespero. Um dos guardas foi pego, um estalo seco ecoou, e seu pescoço se partiu. Sua cabeça de porcelana se esmagou em pó, escorrendo pelos dedos do gigante.

Os demais correram com todas as forças, mas os gigantes davam passos longos, cada passada cobrindo dezenas de metros. Um deles alcançou outro guarda e o apanhou com facilidade.

A mulher de roxo estava tomada de pavor. Era uma cultivadora poderosa, já havia formado o Feto Divino, mas dentro de um domínio dos fantasmas e deuses, seu poder fora drasticamente enfraquecido.

Mesmo um simples chute de um daqueles gigantes poderia reduzi-la a estilhaços.

Ela correu sem olhar para trás, desviando por entre os fornos, tentando escapar. Mas, um a um, seus companheiros foram capturados — até que restou apenas ela.

Desesperada, lembrou-se dos bonecos escondidos em um dos fornos e correu para lá, entrando silenciosamente.

Lá dentro, outros bonecos já se escondiam. Ao vê-la, acenaram com as pequenas mãos, pedindo silêncio.

Um dos gigantes se abaixou e espiou o forno. O rosto enorme tampou toda a entrada.

A mulher prendeu a respiração, imóvel.

Os olhos do gigante, brancos e opacos como porcelana queimada, varreram o interior. Depois, lentamente, ele se ergueu e se afastou. Os outros dois o seguiram.

Após um momento de silêncio, os bonecos espiaram para fora e, aliviados, fizeram sinal para que ela os acompanhasse.

A mulher se curvou e os seguiu, andando em silêncio.

Adiante, um grande forno em chamas iluminava a noite. Os gigantes lançavam os bonecos capturados no fogo, e os gritos de agonia ecoavam enquanto seus corpos derretiam e se contorciam.

Ela sentiu o coração apertar.

Aqueles bonecos eram seus guardas, guerreiros da Família Zhao de Xinxiang, e agora morriam ali, transformados em cinzas nesse vilarejo miserável.

Seguindo os outros bonecos, ela finalmente deixou a olaria.

"Moça, você também foi enganada por aquele demônio do vilarejo?" perguntou um deles.

"Eu… não entendo o que estão dizendo…" respondeu ela, surpresa.

Mas logo percebeu algo espantoso: agora que era um boneco de porcelana, conseguia compreender perfeitamente a linguagem deles, um som agudo e melódico, como canto de pássaros.

Sem esconder nada, contou o que havia acontecido.

"Ele disse que se chamava Cheng Shi… 'Honesto e Verdadeiro'. Mas não passa de um pequeno demônio!"

Um dos bonecos suspirou:

"Nós também fomos enganados. Viemos buscar tesouros e acabamos presos aqui."

"E nós!" exclamou outro.

Logo, mais bonecos surgiram das sombras.

"E nós também!"

De todos os lados, vinham bonecos — rostos sombrios, cheios de ódio.

"Ouvimos que o Túmulo do Verdadeiro Rei estava por aqui", disse um deles, "então viemos procurar fortuna. Mas o coração humano é traiçoeiro… quem diria que, nesse campo pacato, existiria um demônio tão ardiloso?"

Um boneco idoso bateu a bengala no chão, furioso:

"Aquele pequeno monstro nos enganou, transformando-nos em porcelana! Nestes dois anos, mais e mais têm caído em sua armadilha!"

"Maldito seja!" gritou outro.

"Sim! Maldito!" ecoaram os demais.

A mulher de roxo também fingiu concordar, embora em silêncio pensasse:

'Esses também vieram pelo túmulo… assim como eu. Certamente tentaram matar o garoto e silenciá-lo. Ele percebeu — e os trouxe até aqui. Que demônio inteligente…'

Só de pensar em Chen Shi, seus dentes rangeram de ódio.

'Será possível que ele tenha mesmo só dez anos? E como, afinal, consegue se transformar de porcelana em carne?'

Um boneco de aparência madura se aproximou.

"Senhorita… você é… a Segunda Senhorita Zhao da família Zhao de Xinxiang?"

Ela ficou surpresa.

"Sim. E você é…?"

"Eu sou Li Xian de Quanzhou. Senhorita Zhao, já nos encontramos anos atrás!"

O nome a fez estremecer. Li Xian era um renomado herói, famoso por invadir sozinho o covil de bandidos em Longyuan, entrando e saindo sete vezes sem que ninguém o detivesse!

Lembrava-se bem de seu pai pedindo que o chamasse de "Tio Li" quando o visitara em Xinxiang.

E agora… ele estava preso ali, reduzido a um boneco de porcelana.

Outro boneco se adiantou:

"Sou He Qinghe de Danjiang. Saudações, Segunda Senhorita Zhao."

Ela se espantou novamente. He Qinghe era um mestre do Nível Dourado, um dos mais fortes de sua geração.

Uma boneca de aparência feminina também se apresentou:

"Lin Feishuang, à disposição da Senhorita Zhao e dos senhores."

"Eu sou Long Gang de Xinxiang, meus cumprimentos."

"Sou Yu Du, do Banho Huaqing. Prazer em conhecê-los."

E assim, um por um, os bonecos declararam seus nomes, todos figuras conhecidas e poderosas. Havia até um ancião que atingira o nível de Nascent Soul!

A mulher de roxo mal podia acreditar.

Esses eram indivíduos que até a família Zhao trataria com reverência, e agora estavam todos ali, reduzidos a brinquedos frágeis, aprisionados pelo mesmo garoto!

Mas logo pensou:

'Eu tenho posição alta na família. Se eu não voltar em alguns dias, meu pai enviará gente para me procurar. Assim que chegarem a Huangpo, nos encontrarão — e me libertarão.'

Dentro da olaria, as chamas ainda rugiam.

Enquanto isso, Chen Shi se esgueirava pelas sombras, desviando dos três gigantes de argila.

No canto do muro, alguns jarros grandes tremiam, e ao vê-lo se aproximar, apertaram-se uns contra os outros, tentando impedi-lo de se enfiar entre eles.

Mas o garoto persistiu e acabou se encaixando entre os jarros.

Os gigantes passaram por ali. Um deles lançou um olhar para o canto, e um dos jarros se assustou tanto que plop! — brotou-lhe uma perna.

Os outros dois gigantes notaram o movimento e se viraram. O jarro, em pânico, criou braços e outra perna e saiu correndo, a tampa batendo clang, clang!

Os gigantes o perseguiram. Momentos depois, dois deles voltaram, abaixando-se para inspecionar os jarros restantes, os rostos inexpressivos próximos à parede.

Chen Shi, escondido, observava. Os olhos deles eram cinzentos, como porcelana falha, sem vida.

Após um tempo, os gigantes se afastaram. Logo, um deles voltou, arrastando o jarro fugitivo, e o lançou nas chamas, onde derreteu.

Então, em silêncio, Chen Shi e alguns jarros sobreviventes escaparam pela sombra do canto.

Mas, assim que ficaram longe dos gigantes, os jarros voltaram-se contra ele, furiosos, só para descobrir que o garoto já havia desaparecido sem deixar vestígios.

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