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Chapter 10 - Capítulo 10: Laços Iniciais - A Gentileza de Hana

Mão que se estende, Sorriso em meio à poeira, Flor que não se curva.

A poeira do confronto com Kenji ainda pairava no ar — tanto no ambiente quanto no clima da turma.Enquanto a turma retomava os exercícios sob os olhos atentos de Iroha-sensei, percebi olhares ocasionais lançados em minha direção. A surpresa inicial havia dado lugar a uma curiosidade cautelosa. Eu não era mais apenas o garoto quieto e observador; era o garoto quieto que, de alguma forma, havia derrubado Kenji, mesmo que por um truque ou sorte, como muitos provavelmente pensavam.

Kenji, por sua vez, mantinha uma distância calculada, lançando-me olhares cerrados sempre que Iroha-sensei desviava o olhar. A humilhação de ter sido desequilibrado por alguém que ele considerava inferior era uma ferida aberta em seu orgulho. A rivalidade, antes unilateral, agora tinha uma tensão mútua, embora eu não a desejasse.

Foi nesse clima de atenção indesejada e hostilidade velada que senti uma presença ao meu lado. Virei a cabeça e encontrei Hana, a menina de cabelos castanhos e olhos energéticos. Ela estava ali parada, um pouco hesitante, torcendo a barra de sua túnica.

"Akira-kun?" Sua voz era suave, quase um sussurro. "Você... você está bem? O Kenji-kun... pareceu bravo."

Olhei para ela, surpreso por sua abordagem direta e pela preocupação genuína em seus olhos. A maioria dos outros alunos parecia mais interessada no espetáculo ou em tomar partido. Hana, no entanto, parecia simplesmente preocupada.

"Estou bem, Hana-san" — respondi, a voz arranhada pelo esforço... e pela tensão ainda grudada na garganta. "Só... um pouco cansado." Era um eufemismo. Meu corpo doía, e a adrenalina começava a dar lugar a uma tremedeira leve.

Ela deu um pequeno sorriso aliviado. "Que bom. Fiquei preocupada." Ela olhou na direção de Kenji, que agora praticava katas com uma ferocidade exagerada. "Ele pode ser... intenso." Ela escolheu a palavra com cuidado.

"Intenso," concordei, com um leve sorriso irônico que provavelmente se perdeu em minha expressão infantil.

Houve um momento de silêncio constrangedor. Eu não era particularmente bom em conversas triviais, especialmente nesta nova língua e neste novo corpo. Hana, percebendo minha quietude, pareceu tomar coragem.

"Aquilo que você fez..." ela começou, os olhos brilhando de curiosidade. "Como você fez o Kenji-kun cair? Foi tão rápido! Eu nem vi direito."

Hesitei. Como explicar? Que usei a observação para prever o ataque dele e explorei seu desequilíbrio? Que apliquei um princípio básico de redirecionamento de força que lembrava vagamente de outra vida? Era complicado demais, e provavelmente soaria arrogante ou inverossímil.

"Eu só... tentei não ficar parado no lugar" murmurei, desviando o olhar. "Ele era muito forte para bloquear de frente."

Hana pareceu aceitar a explicação simples, embora seus olhos ainda mantivessem um brilho de admiração. "Mesmo assim, foi incrível! Eu ainda tenho tanta dificuldade com os bloqueios. Meus braços sempre doem depois." Ela esfregou o próprio antebraço com uma careta.

Vi ali uma oportunidade de desviar o foco de mim e, talvez, de oferecer algo em troca de sua gentileza. Lembrei-me de tê-la observado durante os treinos. Ela era rápida e tinha bons reflexos, mas hesitava no momento do impacto, talvez por medo de se machucar ou de machucar o outro.

"Você é bem rápida, Hana-san," comentei, tentando soar casual. "Seus movimentos são fluidos. Talvez... talvez você não precise bloquear com tanta força." Tentei gesticular, explicando com minhas mãos pequenas. "Em vez de parar o golpe, talvez possa... desviá-lo um pouco? Usar sua velocidade para sair do caminho?"

Ela me ouviu com atenção, a cabeça inclinada, absorvendo minhas palavras. "Desviar? Como você fez com o Kenji-kun?"

"Algo assim," admiti. "Mas mais rápido. Você é mais rápida que eu." Era verdade. Sua agilidade natural era evidente.

Um pequeno sorriso se formou nos lábios de Hana. "Desviar... Vou tentar! Obrigada, Akira-kun!" Sua gratidão era tão genuína e calorosa que me pegou de surpresa. Era raro, naquele ambiente competitivo e muitas vezes hostil da Academia, encontrar uma abertura tão sincera.

"Não foi nada," murmurei, sentindo um calor inesperado no peito.

"Não, foi sim!" ela insistiu. "Ninguém nunca me deu uma dica assim. Geralmente só dizem para eu ser mais forte." Ela fez uma careta novamente.

Conversamos mais um pouco, sobre as dificuldades das aulas, sobre a severidade de Iroha-sensei, sobre o gosto estranho da comida servida no almoço da Academia. Era uma conversa simples, infantil em muitos aspectos, mas para mim foi significativa. Foi a primeira vez desde que cheguei a este mundo que senti uma conexão genuína com alguém da minha idade (aparente). Hana não parecia se importar com minha quietude ou minha origem desconhecida. Ela via além da superfície, com uma empatia natural que era refrescante.

Ela me contou um pouco sobre sua família – pais civis que tinham uma pequena loja de tecidos na vila. Ela era a primeira de sua família a entrar na Academia, um sonho dela, embora seus pais estivessem um pouco apreensivos. Sua energia e otimismo eram contagiantes, um contraponto bem-vindo à minha própria perspectiva muitas vezes sombria e analítica.

Quando o treino recomeçou, senti-me um pouco menos isolado. Saber que havia pelo menos uma pessoa ali que não me via como um rival ou uma aberração fazia uma diferença surpreendente. Durante os exercícios seguintes, observei Hana tentando aplicar minha sugestão. Ela ainda hesitava, mas vi a ideia trabalhando em sua mente, vi-a tentando usar sua agilidade de forma mais defensiva.

No final do dia, enquanto arrumávamos nossas coisas para ir embora, Hana se aproximou novamente.

"Akira-kun," ela disse, um pouco tímida, estendendo a mão fechada. "Para você." Ela abriu a mão, revelando uma pequena pedra lisa e cinzenta, cortada por um veio branco que a fazia parecer viva. "Eu a encontrei perto do rio ontem. Achei bonita."

Peguei a pedra, surpreso pelo presente - um gesto pequeno porém significante. Era fria e suave ao toque. Era uma oferta de amizade, um reconhecimento silencioso.

"Obrigado, Hana-san," consegui dizer, encontrando seu olhar e oferecendo um pequeno sorriso, desta vez genuíno. "É bonita mesmo."

Seu rosto se iluminou. "Até amanhã, Akira-kun!"

"Até amanhã, Hana-san."

Observei-a ir embora, saltitando levemente, sua energia inabalável apesar do dia exaustivo. Guardei a pequena pedra no bolso de minha túnica, sentindo seu peso suave contra minha perna.

O confronto com Kenji havia acendido as faíscas da rivalidade, um caminho que eu previa ser difícil e cheio de atritos. Mas a conversa com Hana, a gentileza inesperada, a oferta de amizade... aquilo havia acendido um tipo diferente de faísca. Uma faísca de conexão, de calor humano, em meio à dureza da Academia Ninja.

Talvez sobreviver neste mundo não fosse apenas sobre ficar mais forte ou mais inteligente. Talvez fosse também sobre encontrar aliados, sobre construir laços. Hana era como aquela pequena flor silvestre que às vezes via crescendo em fendas nas paredes — aparentemente frágil, mas com uma resiliência e uma beleza inesperadas. Uma flor que não se curvava facilmente à sombra projetada pelas árvores maiores e nem ao duro concreto.

Naquele dia, em meio à tensão e ao esforço, um laço inicial havia sido formado. E pela primeira vez, senti que talvez não estivesse completamente sozinho nesta jornada estranha e perigosa.

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