Quando abri os olhos novamente, estava tudo diferente. As ruas, os carros, até o ar parecia outro.
Cartazes de filmes antigos por toda parte. Carros com alto-falantes passavam anunciando promoções e eventos locais. Jovens com roupas vibrantes andavam com rádios enormes nos ombros. As garotas usavam maquiagem chamativa, saias plissadas e meias até o joelho. Era como ter entrado num filme antigo. Mas não… era real.
— É você? Lee Seok? Do campo de literatura da universidade… Lee Seok? — alguém perguntou ao fundo.
Meu coração quase saiu pela boca. Quando virei, lá estava ele.
Meu pai.
Mas… não era o homem que conheço. Era jovem, rebelde, cheio de atitude. Os cabelos desgrenhados, a jaqueta jeans com um botão de estrela no bolso, e um sorriso travesso. Estava cercado de outros quatro rapazes, cada um com um estilo único.
Um deles tinha aparência delicada, quase andrógina, mas seus olhos carregavam intensidade.
Outro, com uma guitarra nas costas, parecia uma estrela do rock dos anos 80.
Um terceiro falava inglês com fluência e me olhava com desconfiança.
O quarto, de olhar calmo e sereno, carregava um livro de poesias e uma rosa amarela entre as páginas.
— Mas que pregação é essa...? — murmurei. — Onde estou? Como vim parar aqui…?
Foi então que um deles falou com mais firmeza:
— O festival já vai começar. Let's just go.
— Ele disse que o garoto estaria aqui… — disse o outro, ajeitando os óculos e suspirando.
— Olha ali! — apontou um deles. — Aquele cara tá olhando pra gente faz tempo. Será que é ele?
— Lee Tae- Jin vai lá e fala com ele.
O tal Tea Jin se aproximou. Alto, cabelos escuros com uma faixa presa entre as madeixas, vestindo uma jaqueta preta cheia de patches e fones nos ouvidos — ele tirou o fone, e no bolso, reconheci. Era um Walkman. Exatamente igual ao da caixa.
Foi quando vi… o colar.
O mesmo colar com a estrela em formato de guitarra pendia do seu pescoço.
— Ei… você tá bem? — ele perguntou.
As manchetes de jornal começaram a voar com o vento. A música de fundo era um pop rock dançante, abafada pelos sons da cidade. Eu não entendia nada. Só sabia que estava preso em 1982… e que aquilo era só o começo.
(...)