Três dias se passaram desde a câmara.
A aura ainda queimava em mim.
Branca, pura... mas errada.
Me fazia lembrar dele.
Ryujin observava cada treino com mais atenção. Velka também. Mas ela não se afastou — pelo contrário. Depois do beijo, parecia mais presente. Mais minha.
Naquela tarde, enquanto treinávamos perto do rio, senti.
— Parou de treinar? — ela perguntou, limpando o suor com o dorso da mão.
— Estamos sendo vigiados.
— De novo?
— Não. É diferente.
A floresta silenciou. Até os pássaros sumiram.
Então ele apareceu.
Uma figura encapuzada, corpo coberto por mantos negros marcados com runas da Ordem da Névoa. Ele não dizia nada. Só nos encarava.
Mas seus olhos… eram vazios. Como poços sem fundo.
— Vocês mexeram com o ciclo — ele falou, finalmente. — E agora, a Ordem envia seu caçador.
Ryujin surgiu entre nós em um piscar.
— Não lutem ainda. Observem.
Mas o estranho já se movia. Rápido. Silencioso.
Uma adaga cruzou o ar, mirando Velka. Bloqueei no reflexo, e o impacto me empurrou três metros para trás.
Ele não parou.
Desapareceu.
Reapareceu atrás de mim.
Cortei o vazio.
Velka disparou uma onda de chamas. Ele desviou como se dançasse no vento.
Então, sem pensar, gritei.
E a aura branca explodiu ao meu redor.
O chão tremeu. As árvores se curvaram. Minhas espadas brilharam como o sol ao nascer.
— Os olhos... — Velka murmurou — São iguais aos dele.
O caçador hesitou.
— O herdeiro está despertando.
Ele desapareceu numa espiral de névoa, deixando para trás só o silêncio.
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Naquela noite, me afastei do grupo.
Sentei à beira do lago, o reflexo dourado ainda brilhando em meus olhos.
Ela veio atrás de mim.
— Está tudo bem?
— Não. Eu me vi nele. No Caos.
— Você é você, Akira. Mesmo com essa luz.
— Mas... e se eu perder o controle?
Velka se ajoelhou à minha frente. Seus dedos tocaram meu rosto, suaves, firmes.
— Então eu vou estar aqui para te lembrar. Para te segurar.
— Por quê?
— Porque quando você me salvou naquela floresta... algo em mim mudou.
E agora, cada vez que olho para você, mesmo com essa maldita aura...
Ela se inclinou. Os lábios encostaram nos meus.
Dessa vez não foi impulso.
Foi escolha.
Lenta. Profunda. Quente.
— Eu te amo, Akira.
Meu coração quase parou.
Mas, pela primeira vez... não senti raiva.
Nem dor.
— Eu também, Velka.
E pela primeira vez, a névoa ao redor pareceu recuar.