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Chapter 17 - Sombras do Poder

Minjae estava se tornando um homem poderoso. Um homem que Jiwon jamais conhecera.

Sozinho no último quarto de um hotel luxuoso, segurava um copo de bebida na mão, os olhos fixos na cidade iluminada além da janela. As luzes refletiam seu olhar distante, mas nada parecia tocá-lo. Dentro dele, queimava uma sede de vingança que só crescia com o tempo.

Seu coração, no entanto, estava em outro lugar. Ou melhor, com outra pessoa. Jiwon. A mulher que ele amava e seu paradeiro era um tormento. A sua ausência o consumia tanto quanto a raiva por tudo que havia perdido.

O toque do telefone cortou o silêncio, fazendo-o franzir o cenho. Ele atendeu com a expressão de um homem que está acostumado ao controle, sério e frio.

— Fala — disse, direto.

Do outro lado da linha, a voz de um dos seus homens de confiança soou séria. Era um dos encarregados pelas investigações.

— Senhor, encontrei alguém que possa ter informações sobre os envolvidos naquela noite.

Minjae apertou os punhos, maxilar travado.

— Faremos um encontro amanhã pela manhã, mandarei ao senhor a localização.

Minjae apertou os punhos, o coração batendo com força sob o peso das revelações. Ansioso para que o amanhã já chegue. 

A manhã chegou com um céu nublado, o tipo de dia que carregava presságios. Minjae desceu do carro em passos firmes, vestindo um sobretudo escuro que contrastava com a luz fria do amanhecer. O local do encontro era discreto — um antigo galpão abandonado na parte industrial da cidade, longe de olhos curiosos.

Dois dos seus homens já o aguardavam, curvando-se em respeito. O mais experiente, Kang, foi o primeiro a falar ao vê-lo se aproximar.

— Senhor, o homem já está lhe aguardando lá dentro.

Minjae concordou, com o maxilar denso.

Minjae entrou no galpão silenciosamente. O cheiro de poeira e ferrugem tomava o ambiente. No centro, sentado em uma cadeira gasta, estava um homem velho, cabelos despenteados, olhar cansado de quem viveu tempo demais sozinho. Assim que viu Minjae, o velho levantou num salto, desconcertado.

— Pode continuar sentado — disse Minjae, a voz fria e autoritária, como a de um homem que sabia o poder que carregava.

O velho ajustou-se na cadeira, ainda nervoso, mas tentando manter a compostura.

— Você é muito parecido com seu pai... — disse, observando o rosto de Minjae com olhos carregados de memórias.

Minjae se manteve firme, olhando para o homem.

— Conheceu meu pai?

– Sim. Começamos juntos nesse grupo sujo...

Antes que Minjae pudesse perguntar mais, o homem se adiantou:

— O que você sabe?

— Pouco. Sei que ele começou a trabalhar para um grupo perigoso... e que salvou uma garota.

O velho sorriso com um canto da boca, um sorriso entre o orgulho e o deboche.

— Seu pai foi corajoso. Naquele dia, todos descobriram que ele tinha feito o serviço. A criança estava muito mal. Então ele simulou a morte dela... fez um túmulo falso. — O velho repetiu a expressão com uma risada amarga. — Um túmulo falso. Audacioso, né? Mas depois disso, ele sumiu. E isso foi suspeito. Meu chefe não descansou enquanto não o encontrou.

Minjae ouvia, mas a tensão em seu maxilar e os punhos fechados revelavam sua fúria crescente. 

— Quero que fique claro uma coisa. Se isso for uma armadilha, você não vai ter tempo de se arrepender — rosnou, com os olhos semicerrados.

O velho levantou as mãos, tremendamente levemente.

— Eu entendo. Estou arriscando minha vida por você. Seu pai foi meu amigo. Fiz com que ele prometesse que nunca contasse a ninguém que eu o ajudei aquele dia. O chefe é um homem cruel...quem sai do grupo, sai morto. E você está se metendo com gente que não conhece.

Minjae se manteve calado. O olhar cortante.

— Quero te dar um conselho... não procure o homem que matou seus pais. Aquilo não foi uma execução comum. Aquele dia... foi diferente. Nosso grupo não costuma mexer com crianças. Havia rumores... de que foi a mando de...

O barulho seco de tiros interrompeu a confissão. Minjae se virou de imediato. Os estalos continuaram, ecoando pelo galpão. Homens armados invadiram, abrindo fogo. Alguns dos aliados de Minjae foram atingidos e outros reagiram.

O velho homem levou um tiro no peito. Minjae deu um passo para se aproximar, o rosto em choque, os olhos arregalados, mas Kang o afastou com força.

— Precisamos sair daqui!

Por um momento, foi como se o tempo tivesse parado. Minjae sente o mundo girar. Nada... nada sobre Jiwon.

Com os dentes cerrados e a expressão tomada pela raiva, Minjae puxou a arma e começou a revidar. Seus homens reagiam, dando cobertura. Minjae se protegeu atrás de uma pilastra.

— Kang! Derrube um deles! — Ordenou.

Kang mirou, acertando um dos inimigos. Arrastou o homem ferido até o carro, com Minjae cobrindo.

Fugiram.

Minjae chegou à casa em reforma. O lugar era frio, silencioso. Mandou que amarrassem o prisioneiro numa cadeira no porão. A luz fraca iluminava o rosto do homem, contorcido de dor.

Minjae entrou com passos lentos, mas firmes. Seu rosto estava sombrio, os olhos sem piedade. Aproximou-se da cadeira.

— Como se chama? — Disse, a voz baixa, grave, um sussurro ameaçador 

— H-Hyuk... — gaguejou o homem, com a respiração pesada e o rosto coberto de sangue e suor.

Minjae sorriu de canto, quase satisfeito, mas havia uma sombra escura por trás daquele sorriso.

— Hyuk... então vamos conversar, Hyuk. — Ele deu um murro seco no rosto do homem, que jogou a cabeça para o lado, cuspindo sangue.

Sem esperar resposta, Minjae segurou o rosto dele com força e sussurrou ao pé do ouvido:— Onde está Jiwon?

O homem apenas gemeu, e Minjae perdeu a paciência. Com um golpe rápido, desferiu uma tapa tão forte que a cadeira quase tombou.

— Você acha que pode brincar comigo? — rosnou, inclinando-se, com os olhos em brasa.

Hyuk tentou recuperar o fôlego, mas não teve tempo. Minjae deixou a camisa do homem com brutalidade e enfiou o dedo indicador no ferimento de bala que atravessava a clavícula esquerda. Hyuk falou com dor aguda, o corpo inteiro se contorcendo.

— Eu... eu não sei! — significativa, contorcendo-se.

— Isso foi só o começo — murmurou Minjae, sem emoção.

Retirou um saco plástico e, sem aviso, o enfiou sobre a cabeça do homem. Abriu o plástico contra o rosto, bloqueando qualquer entrada de ar. O desespero tomou conta de Hyuk — as pernas chutava o ar, o peito arfava em vão. Quando ele começou a perder os sentidos, Minjae arrancou o saco com violência, permitindo uma lufada de ar entrar nos pulmões desesperados.

— Agora sim — disse, agachando-se à frente dele, olhos nos olhos. — Vamos conversar de verdade... ou isso vai se repetir, até você implorar pela morte.

Hyuk chorava, tossindo, completamente entregue. E ainda assim, Minjae parecia frustrado.

— Fala... — disse com os dentes cerrados, aproximando-se mais uma vez, suando levemente, mas ainda firme.

Respirou fundo. Pegou uma faca e passou a lâmina suavemente sobre os dedos, como se estudasse o próximo movimento. Um sorriso frio se formou.

— Vou te deixar viver... se contar toda a verdade.

Hyuk balbuciou, tremendo:

— E-eu juro... no dia em que atacaram a casa... quando o chefe foi entrar no quarto da garota... Outro homem apareceu... eles trocaram tiros... ele a levou. Nós ainda não sabemos quem era.

Minjae o encarou, olhos estreitos, tentando captar qualquer mentira, mas Hyuk parecia destruído demais para enganar. O silêncio reinou por segundos, até que Minjae se levantou, o maxilar tenso, os olhos vidrados.

— Obrigado — disse com os dentes cerrados.

Então, cravou a faca na lateral do corpo de Hyuk, com precisão e frieza. O homem gritou, depois engasgou, o som sufocado por sangue.

Minjae limpou a lâmina com um pano e virou-se para seus homens.

— Se livre do corpo. Limpem tudo.

Saiu da sala com o mesmo passo calmo de quem havia acabado de terminar um expediente — mas por dentro, o vulcão de vingança estava prestes a entrar em erupção.

Saiu dali, sem olhar para trás. O rosto frio. O coração endurecido. Estava disposto a se tornar o que fosse... para encontrá-la.

Já faz uma semana desde que Jiwon estava na casa de Seojun. Sete dias de silêncio sobre Minjae, sete dias tentando sufocar a angústia que crescia a cada noite sem respostas.

Durante esse tempo, Seojun tornou se uma presença constante. Havia algo nele que transmitia segurança — um tipo raro de paz que ela não sentia há muito tempo. Ele era gentil, paciente… e a maneira como olhava para ela fazia seu coração hesitar. Jiwon começou a se perguntar se estava mesmo começando a gostar dele, ou se era apenas carência disfarçada de afeto.

Com o passar dos dias, aproximar-se dele se tornara inevitável. Suas conversas, sempre calmas, fluíam com naturalidade. Falavam do presente, mas também mergulharam no passado, e foi em uma daquelas noites, sentados na varanda ao som do vento sussurrando entre as árvores, que ela descobriu seu nome verdadeiro - Ha Rin - aquele que havia esquecido com o tempo. Mas que por enquanto não se lembra do seu passado não gostaria de ser chamado por ele. 

Seojun lhe contou também que foi ele quem lhe deu uma rosa na infância, nos tempos da escola. Queria que ela se lembrasse dele. E, de alguma forma, ela se lembrou. Não da rosa. Mas da sensação de ser querida.

Havia algo nele que fazia seus lábios se curvarem novamente em um sorriso. Um sorriso ainda tímido, mas verdadeiro. Sua irmã, Haejin, também começou a ocupar um espaço especial em seu coração — como uma nova amiga, uma ponte para que talvez pudesse sorrir novamente.

Mas nem tudo era leve.

Jiwon havia perdido o contato com Soyeon, sua melhor amiga, e isso apertava seu peito com um tipo diferente de preocupação. Algo não estava certo. Havia buracos demais na história, silêncios que pesavam como gritos.

Em uma noite de luar fraco, com a xícara de chá esfriando entre as mãos, Jiwon criou coragem e perguntou:

— Você também acha que o Dohyun... não tirou a própria vida? — Sua voz saiu baixa, hesitante. — Eu... às vezes penso que ele descobriu algo que não devia. E foi silenciado.

Seojun a encarou em silêncio. Seus olhos escureceram levemente, e por um breve instante, Jiwon se sentiu como se ele soubesse mais do que deixava transparecer.

Ela se levantou lentamente, caminhou até onde Seojun que estava lendo, e com o coração apertado, soltou a pergunta que vinha guardando há dias:

— Até quando vou ficar aqui, Seojun? Eu preciso da minha vida de volta... Preciso saber de Minjae.

Ele fechou o livro devagar, sem olhar de imediato. O silêncio entre eles se esticou como um fio prestes a romper.

— Eu quero encontra-lo... — contínua ela, com a voz trêmula. — Pode me levar até ele?

Seojun finalmente levantou os olhos. Sua expressão, que antes era branda, agora carregava algo mais denso. Havia dor. E ciúmes.

— É sempre ele, não é? — murmurou, se levantando devagar. — Você só fala nele. Minjae pra cá, Minjae pra lá… Você nem percebe, mas ele ocupa todos os seus pensamentos. O tempo todo.

Jiwon franziu a testa, surpresa.

— Não é sobre ele, Seojun. É sobre mim. Sobre a minha história. Sobre tudo o que preciso entender. Você não tem o direito de me manter aqui como se eu não tivesse escolha!

— Estou tentando te proteger! — explodiu ele, dando um passo à frente. — E sabe qual é a parte mais difícil disso tudo? Ver você aqui... mas com o coração em outro lugar.

— Se é assim que pensa… então me deixa ir. — A voz dela saiu firme. Pela primeira vez, ela não hesitou.

Seojun recuou, mordendo os lábios. Saiu da sala, atravessando a porta de vidro que dava para o jardim. Do lado de fora, respirou fundo, como se estivesse tentando arrancar do peito o que sentia. Passou as mãos pelos cabelos, caminhou em círculos, depois parou. Fitou o céu já escurecido e tomou uma decisão.

Voltou para dentro.

Jiwon ainda estava parada, os olhos marejados. Ele a olhou com sinceridade.

— Liga pra ele. — disse, quase num sussurro. —Liga agora.

Ela o encarou por um segundo, surpresa, pegou o celular que estava nas mãos de Seojun, e com os dedos trêmulos, discou o número de Minjae.

Seojun deu meia-volta e parou no jardim, a alguns metros de distância — o suficiente para não ouvir as palavras, mas perto o bastante para captar o som da voz dela... diferente, mais viva, mais urgente.

Com os braços cruzados e o tenso maxilar, Seojun observava de longe. O olhar dele fixou Jiwon como se cada segundo de conversa estivesse arrancando algo dele. E estava.

Ele ouviu o nome sendo repetido — Minjae . Aquilo o feria mais do que queria admitir.

Seu peito pesava com uma mistura de ciúmes, medo e frustração. Ele sabia que havia tudo feito para protegê-la... Mas, mesmo assim, o nome de Minjae o deixava desconfortável.

Seojun fechou os olhos por um breve momento e respirou fundo, tentando conter o sentimento que o consumia. Não queria parecer fraco, nem dramático, mas ali — naquele instante — sentiu como se estivesse a perder la novamente.

A chamada tocou.

Do outro lado da cidade, Minjae estava em seu escritório improvisado, com as mãos ainda manchadas de sangue e o coração sufocado por tudo o que havia sido descoberto. O celular vibrou em cima da mesa. 

Atendeu, com a voz sem imaginar quem era.

— Alô?

- Minjae? — a voz dela do outro lado veio suave, trêmula.

Ele fechou os olhos, como se o som dela lavasse toda a dor que sentisse.

— Jiwon… — ele transmitiu. Era um sorriso quebrado, mas verdadeiro. — É você mesmo?

— Sou eu.

Ele encostou a testa na parede, o corpo perdendo a força, como se estivesse voltando à vida depois de muito tempo submerso.

— Você tá bem? Onde você está? Eu vou até você agora. — disse com pressa, como se não suportasse a ideia de mais distância.

Jiwon sorri com lágrimas nos olhos.

— Seojun vai te mandar o endereço...

— Quem? Park Seojun? O professor substituto? — Minjae franziu o cenho, imediatamente em alerta.

Minjae respirou fundo, passando a mão pelos cabelos. O nome ainda girava em sua mente como um enigma. Professor substituto? Que tipo de ligação ele teria com toda aquela história? Com Jiwon?

—Tá. — respondeu por fim, com a voz rouca. — Me mande agora. Eu vou indo.

Enquanto isso, Minjae já estava de pé, com o olhar determinado e o celular firme na mão. Ele olhou para Kang, que aguardava à porta.

— Vamos. Agora.

Kang não questionou. Sabia que quando Minjae falava desse jeito… era o início de algo que não podia ser interrompido.

No ar, havia o cheiro da noite, o peso da verdade, e a expectativa de um reencontro que poderia mudar tudo.

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