A manhã seguinte foi uma repetição da anterior, acordamos cedo e passamos pela rotina ritualística de caos e falta de organização. Estacionei e esperei que Carl e Debie saíssem antes de parar Ian.
"Me leve para sua classe!" Falei e começamos a seguir em frente.
Ian me olhava de lado, um pouco de confusão, mas ele não questionava. Paramos em frente a sala de aula e entramos, Ian caminhou em direção ao fundo, eu já podia vê-la e caminhava atrás de Ian. Assim como eu a encarava Mandy me olhava, um brilho de nervosismo e desafio em seu olhar, aquela garota tinha muito mais coragem do que os irmãos ou o pai dela.
"O que você quer Gallagher!" Falou ela seus olhos nos meus enquanto me encarava.
"Vamos conversar lá fora, eu tenho uma proposta pra você!" Falei e me virei, dependeria dela me seguir ou não.
Não olhei para trás, apenas caminhei pelos corredores enquanto os alunos abriam caminho para mim. Aparentemente eu já tinha uma reputação e julgando pelos olhares nervosos, não era boa. Honestamente, depois de duas brigas em um dia eu não poderia culpar esses garotos.
Caminhei até o estacionamento, destranquei a porta e entrei no carro, me encostei no assento do motorista e fechei os olhos. Minutos se passaram e eu fiquei ali, sem me mover ou abrir os olhos, então as coisas se desenrolaram como imaginei.
A porta do carona se abriu, o carro tremeu e alguém entrou. Meus olhos ainda estavam fechados, enquanto eu pensava sobre o que estava prestes a dizer.
"Aqui estou Gallagher, oque você quer comigo?" Perguntou Mandy, sua voz um misto de nervosismo e irritação.
Abri meus olhos, me virei para ela meu olhar fixo no seu.
"Em primeiro lugar, me desculpe por te causar problemas. Eu não pretendia enviar sua família para a cadeia, na verdade eu não teria me movido se eles tivessem acabado com Frank, mas eles foram atrás dos Gallagher errados."
Meu tom era indiferente, minha voz calma e composta.
"É pra isso que me chamou Gallagher? Pedir desculpas, por que?
"Por mandar minha família pra cadeia quando tem um bando de bandidos colombianos rondando a minha casa?"
"Por me deixar sozinha e desprotegida?"
"Ou por invadir minha classe pensando que poderia falar comigo como o grande salvador?"
Suspirei, meus olhos podiam ver o medo no olhar dela e eu não podia culpar a garota, o cartel colombiano não era para se brincar.
"Desculpe por não ir até você ontem a noite, é quando eu deveria ter te feito essa proposta!" Falei divertido, quando seus olhos se arregalaram sem esperar aquela resposta.
"Não me arrependo do que fiz Mandy, eu faria o mesmo novamente, me arrependo do que não fiz."
"Deixei uma garota linda e jovem sozinha mesmo quando sabia que seu pai havia sido ameaçado!"
"Dito isso, não acho que seja uma boa ideia você continuar com o Terry, mesmo que ele saia da cadeia as ruas estão caóticas!"
"Gostaria que você ficasse na minha casa por um tempo, iremos cuidar de você!"
Fiz minha proposta e esperei, Mandy me olhou incrédula por um momento, então divertida, seus olhos brilhando de escarnio.
"Me proteger Gallagher? Uma mulher, um adolescente que teve duas brigas e se acha o machão e bandido e um bando de crianças?"
Mandy estava irritada, sua voz pingava veneno.
"Meu pai é um criminoso, saindo e entrando da prisão, temido no bairro, e mesmo ele estava assustado! O que você a porra de um adolescente acha que pode fazer com esses caras?"
"No momento posso te conceder uma casa, um ambiente seguro e não pense que sabe tudo sobre mim ou minha família!" Eu sorri divertido.
"Venha pra minha casa e nos dê uma chance de pelo menos não ficar sozinha, se não se sentir segura lá você é livre para ir!" Falei e esperei por sua resposta.
Mandy parecia irritada, ela desviou seu olhar e se virou para sair, todo o seu corpo traindo sua irritação. Então ela congelou, seus olhos se arregalaram enquanto ela olhava para o outro lado do estacionamento.
Olhei naquela direção e os vi, um Honda Accord preto com três jovens hispânicos dentro. Eles nos encaravam de forma estranha, focados demais em Mandy para ser saudável.
"Coloque o cinto!" Falei ligando o motor, pisei no acelerador e a camionete rugiu e cantou pneus enquanto eu corria para fora do estacionamento.
Entrei no transito e acelerei em direção a periferia, atrás de nós o Honda acelerava em aproximação.
"Para onde você está nos levando?" Mandy perguntou, enquanto eu evitava as ruas principais e nos afastava cada vez mais da cidade, em direção as áreas pouco movimentadas da cidade.
"Provar que posso cuidar de você, embora eu te peça para manter o que vir em segredo!" Falei sorrindo, eu sabia que podia confiar em Mandy, ela era leal e mais importante, frágil demais debaixo de toda essa fachada de rebeldia.
Enquanto eu dirigia lancei o olho fantasma, vigiando cada movimento do carro atrás. Tirei a mão esquerda do volante e a levei para o lado do banco, fora de vista de Mandy. De meu inventario peguei uma Glock-17 e dois carregadores de lá.
Coloquei a arma no meu colo, e enfiei os carregadores nos bolsos. No momento em que viu a arma, Mandy arregalou os olhos me encarando com medo.
"Relaxe, eu sei o que estou fazendo." Falei para a garota enquanto entrava em uma rua estreita.
Armazéns abandonados estavam em ambos os lados, enquanto eu acelerava já vendo a parede de um terceiro armazém tornando a rua sem saída!
"Não não não, volte porra volte!" Falou Mandy desesperada, seus olhos cheios de pânico quando eu freei o carro e girei o volante dando um cavalo de pau.
"Abaixe quando eu mandar!" Falei enquanto pegava a Glock e esperei, através do olho fantasma eu podia ver a empolgação dos bandidos.
Amanda não respondeu, ela estava assustada olhando para o outro carro.
O Honda parou e três jovens desceram, dois deles com pistolas em punho o terceiro andava entre eles como se fosse o dono da rua.
"Saiam do carro, e não tentem nenhuma gracinha, ou matamos vocês aqui!" Falou o do meio.
Seus amigos embora tivesse armas as apontavam para o chão, amadores completos, pensei enquanto soltava a trava de segurança da Glock.
"Agora!" Falei alto e Mandy se abaixou.
Ergui a arma pela janela e disparei três vezes, rapidez e precisão se sobrepondo quando buracos idênticos surgiram nas testas dos bandidos.
"Acabou!" Murmurei sem emoção, havia sido simples demais, sem tiroteio, sem gritos de dor.
"Isso foi anti-climático, eu até os trouxe para um lugar sem testemunhas!" Murmurei irritado, peguei um par de luvas para situações como essa e desci do carro.
"Você é louco?" Mandy perguntou, mas saiu pela outra porta e me seguiu.
"E por que diabos você tem luvas em seu porta objetos!?"
Olhei para ela pensando sobre sua pergunta.
"Um pouco, provavelmente muito!" Respondi indiferente a primeira pergunta, me abaixando e pegando as armas dos criminosos e os revistando.
"Nunca deixe suas impressões em uma cena de assassinato." Respondi a segunda pergunta e Mandy me olhava assustada.
Armas, carregadores extras, carteiras e qualquer coisa que eu encontrasse eu pegava e entregava a Mandy que colocava na mochila. Quando terminamos, caminhei em direção ao Accord e o limpei de tudo o que tinha valor, uma M4 e alguns carregadores, além de $500 em dinheiro, uma grande bolsa de lona vazia e nada mais.
Tirei os itens roubados da bolsa de Mandy, e guardei na bolsa preta assim como o dinheiro e a M4.
"Quem é você Lip Gallagher?" Perguntou ela quando entramos no carro e comecei a voltar para a cidade por uma rota diferente.
Eu usava o olho fantasma em busca de perseguidores enquanto me concentrava na estrada a frente.
"Sou alguém que está te oferecendo ajuda, um lugar seguro pra ficar pelo tempo que você quiser!" Finalmente respondi, quando tive certeza de que ninguém nos seguia.
Mandy me encarou, um brilho diferente nos olhos.
"Tudo bem eu aceito, mas você não precisa perguntar a sua família sobre isso?"
Dei de ombros.
"Os Gallagher raramente renegam ajuda para alguém!" Respondi indiferente, pegando uma rua que nos levaria a casa de Mandy.
"Então por que dizem por ai que você não apenas negou aceitar seu pai em sua nova casa, como lhe deu um soco tão forte que ele desmaiou?" Mandy me encarava enquanto eu parava a duas casas da dela.
Meu olho fantasma foi enviado a frente, explorando qualquer esconderijo em busca de bandidos.
As pessoas falam, por que eu realmente fiz isso!" Falei indiferente saindo do carro.
Mandy me seguiu, seu olhar confuso.
"Se você vai para minha casa, precisamos das suas coisas!" Expliquei mas ela ainda me olhava confusa.
"Por que você arrisca sua vida e família pela filha do homem que o atacou, mas renega seu próprio pai?" Perguntou ela ao entrarmos pela porta de sua casa.
"Seu pai me atacou, mas não me importo, ele tem tão pouco valor ou importância pra mim quanto uma mosca. Você por outro lado é uma pessoa inocente nesse caos, você não fez nada. Mas foi arrastada para isso e eu participei ao enviar sua família para a prisão."
Mandy estava prestes a questionar, quando seu corpo congelou.
'Isso não estava assim quando eu saí!" Mandy falou sua voz tremendo de medo.
"Relaxe, provavelmente foram apenas os três idiotas de antes." Falei especulando, já que não havia encontrado ninguém com o olho fantasma.
"Quanto a Frank, eu não o ajudaria, ele nunca foi mais que um câncer em nossa família, contaminando nossas existências enquanto sugava as nossas conquistas como suas!" Falei em um tom frio quando abrimos a porta do quarto de Mandy.
O lugar estava revirado e semidestruído, Mandy correu para dentro seus olhos percorrendo o caos do lugar, lagrimas em seus olhos. Caminhei até ela e a puxei para mim, não houve resistência quando seus braços envolveram minha cintura e ela chorou em meu peito.
"Relaxe, eles estão mortos, assim como qualquer um que vier depois deles vai terminar!" E falei acariciando suas costas.
Mandy levantou o rosto seus olhos nos meus, ficando na ponta dos pés ela me deu um selinho antes de se desvencilhar e encontrar uma bolsa de viagem. Rapidamente, ela começou a colocar suas roupas e itens pessoais ali, em menos de dez minutos havíamos reunido tudo e a levei para casa.
Entramos em casa, Mandy olhava ao redor curiosa, enquanto eu caminhava pela sala passos soaram e Fiona apareceu com Liam no colo, Vic estava logo atrás dela.
"Lip, o que você está fazendo em casa? Por que ela está aqui?" Perguntou Fiona com preocupação e curiosidade.
"Eu explico em alguns minutos, por enquanto vou mostrar o quarto a Mandy!" Falei e subi as escadas com a garota a reboque.
A levei para o futuro quarto de Liam, que por enquanto, era um quarto de hospedes.
"Você ficará aqui, fique a vontade para desfazer as malas e tomar um banho se quiser. Se precisar de mim basta chamar, eu estarei lá embaixo!" Falei devagar e Mandy assentiu entrando no quarto.
Desci as escadas, fui até a geladeira e peguei cerveja, me sentei a mesa e encarei Vic e Fiona que tinham os olhos fixos em mim. Enquanto Liam brincava com alguns bonecos sentado no chão.
"Explique!" Fiona falou em um tom exigente que raramente usava.
"Mandy e eu estávamos no estacionamento, eu estava lhe oferecendo abrigo quando um grupo de colombianos apareceu! Nós escapamos, eles nos seguiram, os levei para fora da cidade e matei. Limpei tudo e voltei a casa de Mandy, o lugar está revirado e destruído, é melhor que ela fique aqui em segurança." Expliquei tudo com indiferença, minhas expectadoras porem estavam pálidas e assustadas.
"VOCÊ FEZ O QUE?" Fiona rugiu, seu corpo se ergueu e ela caminhou até mim me encarando, seu rosto a centímetros do meu.
"Salvei uma garota e matei alguns bandidos!" Respondi indiferente.
Sua mão se moveu em um borrão para um tapa, mas segurei sua mão e a puxei para mim, seu corpo preso contra meu peito.
"Não faça isso Fi!" Falei em um tom rouco de comando, e senti seu corpo tremer, lagrimas escorriam de seus olhos.
"Eu não poderia deixar alguém levar ela, não quando eu podia ajudar!" Expliquei, Fiona me envolveu em um aperto.
"Você poderia ter morrido!" Falou Vic também se levantando. "Ou sido preso!"
"Isso nos destruiria Lip, destruiria as crianças!" Vic parou ao meu lado e passou os braços ao redor de nós dois.
Minutos depois, nos separamos e fomos para nossos lugares a mesa. Mandy também se juntou a nós.
"Tudo acabou bem, mas precisaremos ter cuidado, Fiona você deve estar armada o tempo todo, Vic e Kev também." Comecei a falar enquanto abria a bolsa de lona que havia pego mais cedo.
Coloquei cinco pistolas e o rifle sobre a mesa.
"Peguem mas evitem usar, se o fizerem limpem as digitais e se livrem disso, essas coisas provavelmente estão marcadas no sistema." Expliquei.
"Isso é mesmo necessário Lip?" Vic me olhou. "Por que não chamamos a policia? Isso é legitima defesa afinal!
"Eles são o cartel, mesmo que vão para a cadeia, não é por muito tempo! Irei descobrir quem está atrás de Milkovich, isso irá nos poupar tempo."
"Fiona, busque os pequenos na escola, vou tentar descobrir algo nesses telefones." Falei e fui para o meu quarto, Mandy me seguiu, seus olhos varrendo o lugar.
Meu quarto tinha diversos armários e prateleiras, sendo o antigo escritório biblioteca, ele era espaçoso então o tomei para mim, e enchi de coisas que poderia usar.
Havia armários, comodas e prateleiras, itens diversos guardados em um caos controlado, Mandy olhou para toda a zona organizada, antes de focarem em meu armário de bebidas.
"Você tem coisas caras aqui." Falou ela parando em frente as portas de vidro, seus olhos percorrendo os rótulos caros.
Olhei para as garrafas e concordei, mas não falei muito. Afinal o armário e as bebidas na frente eram apenas um disfarce, a verdadeira riqueza estava na porta secreta atrás do fundo do armário.
Ali havia alguns milhões em drogas, e pilhas de dinheiro, assim como um arsenal. Eu mesmo havia feito esse armário, o colocando em uma reentrância da parede, fazendo ele parecer menor do que realmente era, garantindo que ninguém mais soubesse o que estava ali.
Caminhei até o computador e comecei a trabalhar. Havia muitas ligações, mas o mesmo número se repetia em todos. Com o mesmo nome 'Chefe', esse era o cara que eu queria. Coloquei uma playlist com minhas bandas preferidas, o som baixo ecoava pelas caixas que espalhei pelos cantos do quarto.
"Estou com inveja..." Murmurou Mandy e olhei para ela divertido.
Então me concentrei e comecei a criar um algoritmo de rastreamento, ao mesmo tempo fui até uma cômoda, e peguei alguns equipamentos eletrônicos que comprei.
Voltei para a mesa do computador e sentei em minha poltrona, Mandy sentou ao lado, seus olhos no que eu fazia.
"O que é isso?" Perguntou ela, enquanto eu desmontava e remontava os equipamentos.
"Modificador de voz!" Falei sem olhar.
"Como você aprendeu essas coisas?" Perguntou ela curiosa ao meu lado.
"Internet, livros, imaginação." Dei de ombros concentrado. "Minha mente apenas trabalha de forma diferente.
Horas se passaram, eu trabalhava concentrado, Mandy havia se mudado para minha cama e deitava ali me observando. Enquanto estávamos ali, escutei um carro entrando na garagem e a porta da casa se abriu.
Vozes soaram e minha família caótica se espalhou pela casa, uma cabeça de cabelos loiros surgiu em minha porta.
"Lip, onde você esteve!"Karen entrou no quarto e congelou, seus olhos em Mandy deitada sobre minha cama. "O que ela está fazendo aqui?" Seu tom era acusatório.
"Feche a porta e se sente, pergunte a Mandy e ela explicará!" Não falei mais que isso, eu estava concentrado demais em meu trabalho.
Karen não me ouviu, dando as costas a mim ela correu para fora do quarto, logo em seguida escutei a porta bater. Olhei para aquela situação e suspirei, eu deveria ter previsto isso.
