O vento cortava o topo das Montanhas de Névoa Azul, levando consigo o cheiro gélido da madrugada. A neve caía como cinzas de um passado esquecido.
No meio daquela imensidão branca, uma única figura caminhava: Aren Kael, o último híbrido nascido entre um elfo sombrio e uma humana.
Seus cabelos prateados contrastavam com o manto preto rasgado que vestia. Um de seus olhos era dourado, herança dos elfos; o outro, azul, como os humanos.
Dois mundos em conflito refletidos em um só olhar.
> "Não sou humano o bastante para eles… nem monstro o suficiente para os outros."
Essas palavras eram seu mantra e sua maldição.
Aren vagava sem destino, um andarilho rejeitado por todos os reinos. Até que, certa noite, ao se abrigar em uma cabana abandonada no meio da floresta, ouviu algo impossível: um choro.
A voz era fraca, trêmula, quase apagada.
Empurrou a porta de madeira e a viu — uma jovem envolta em um manto branco, ferida e coberta de neve.
Ela ergueu os olhos com dificuldade.
Os cabelos loiros, sujos de terra e sangue, ainda reluziam sob a luz da lua.
> — Você… é um monstro? — murmurou ela, a voz quebrada.
— Talvez. — respondeu Aren, ajoelhando-se ao lado dela. — Mas, se for, então hoje os monstros salvam vidas.
Um pequeno sorriso curvou os lábios dela.
> — Meu nome é Lyra Venshire… obrigada… monstro gentil.
Aren ficou em silêncio por um instante, sentindo algo despertar dentro dele — algo que acreditava estar morto há muito tempo.
> — Aren. Aren Kael.
— Aren… — ela repetiu, antes de desmaiar em seus braços.
A neve continuava a cair, cobrindo o chão como um véu.
Naquele instante, Aren percebeu que algo estava mudando.
O destino, talvez.
Ou o próprio mundo.