Esta é a história de um nome temido tanto nos círculos oficiais quanto nos não oficiais. Seus aliados o chamam de salvação. Seus inimigos estão arruinados. Alguns o chamam de "o Profeta" porque parece que o mundo segue suas palavras. Outros o chamam de "o maior ladrão do mundo" e "o demônio dos contratos". Se você o ouvir, você perde.
Mas ele prefere um nome específico. Gosta de ser chamado de Atlas , aquele que carregou o mundo. Arrogante para a maioria, mas para ele, é simplesmente a pura verdade. Esta história nos apresentará a ele do começo ao fim.
Então por que não vamos até onde ele está?
Em uma carruagem — ou melhor, lá estava Eyslan, um garoto recém-iniciado na magia. Ele ainda não havia se destacado nos círculos mágicos oficiais ou clandestinos. Era seu primeiro dia viajando para a academia. O trem em que ele estava havia quebrado e, à distância, ele avistou uma carruagem. Pagou ao cocheiro para levá-lo à cidade. Como o cocheiro já estava a caminho, Eyslan se viu em uma carruagem, a meio caminho entre a carroça do cocheiro e a estrada principal.
Ao passar pelos portões, começou a observar a cidade. As ruas eram lindas e limpas, mas havia algo de estranho. O próprio ar parecia pesado. Este era um dos centros políticos do Reino da Revenda. Comparado à capital Breile, tudo ali parecia praticamente perfeito — e isso, ele sabia, era um sinal de alerta. Perfeição não existia.
"Diante dos céus azuis das terras do Norte, dos pedaços do Oeste que conquistamos e diante do Leste que agora visitamos, tudo está como deveria ser,"
lia-se uma placa nos arcos de entrada que separavam as Muralhas do resto do mundo. As muralhas eram tão espessas que pareciam impenetráveis. O arco em direção ao portão da cidade era esculpido com tamanha precisão mágica — um emaranhado de centenas de encantamentos em camadas — que era capaz de deter até mesmo os guerreiros ou magos de mais alto escalão. Qualquer um que passasse por ali sentia aquelas energias percorrê-lo da cabeça aos pés antes de permitir sua entrada.
Uma vez lá dentro, Eyslan virou-se para o cocheiro e perguntou:
— Obrigado, senhor. Quanto lhe devo?
O homem olhou para as roupas do rapaz — um tanto luxuosas, mas não extravagantes — e imediatamente compreendeu a situação. Ele já tinha visto aquilo antes: jovens de cidades pequenas chegando pela primeira vez a uma das muitas academias espalhadas pela cidade.
—Duas moedas de prata, ele disse.
Eyslan congelou. O clima ficou tenso. Claramente, ele não tinha dinheiro. O cocheiro percebeu e franziu a testa, mas antes que as coisas piorassem, Eyslan disse:
— Sério, você não precisa de muita coisa? Nem de dinheiro?
Com um sorriso forçado e uma rápida olhada ao redor, Eyslan usou um de seus velhos truques.
— Que tal isso, senhor? Vou só dar uma olhada rápida no seu carrinho.
Enquanto olhava para cima e ao redor, tentando dissipar a tensão, um transeunte se aproximou. O homem parecia um funcionário dos serviços administrativos da cidade.
—E o que temos aqui? — perguntou o funcionário.
— Você teria duas moedas de prata para me emprestar? — perguntou Eyslan sem o menor sinal de vergonha, recebendo um olhar incrédulo do cocheiro.
O oficial entendeu rapidamente. O rapaz era um aluno novo que se esqueceu de trazer dinheiro. Mas aquele não era um transporte oficial da academia. Não havia cheiro de álcool, e o cocheiro estava claramente apenas tentando receber o pagamento.
— Andem, vocês dois — ordenou o oficial. Depressa, afastem-se dos portões.
Eyslan começou a caminhar em direção à Academia de Revensborn, com os olhos fixos nos portões imponentes e nos vastos campos à sua frente — campos ricos em magia e repletos de energias misteriosas. Disse a si mesmo que aquele era o momento em que se tornaria um grande mago.
Enquanto caminhava pelo campus, ouviu algumas conversas — indícios de que aquele lugar estava longe de ser perfeito. Dois professores e o que parecia ser um zelador discutiam as instalações do depósito. Alguns lotes de suprimentos mágicos haviam desaparecido. Materiais para alquimia e astrologia haviam desaparecido. Cristais de mana haviam desaparecido. E sem os cristais adequados, as aulas haviam sido adiadas por uma semana inteira.
Também houve rumores sobre um aluno que havia perdido um cristal durante um experimento matinal. Um pesquisador muito entusiasmado afirmou que isso poderia ser revolucionário — que seria possível usar fragmentos de cristais de outras pessoas para alimentar seus próprios feitiços. Ele quase foi preso por heresia, mas aparentemente teve o apoio de alguém influente que gostou da ideia.
Eyslan também aprendeu sobre a política interna entre professores. A academia não era apenas um lugar de magia e aprendizado — era repleta de status, privilégios nobres, hierarquias mestiças, facções religiosas e outras disputas de poder nas quais ele não tinha interesse.
Perto dali, alunos do segundo ano — identificáveis por seus uniformes verdes — conversavam sobre as próximas competições e demonstrações de inovação. Outro grupo mencionou como esses eventos estavam interligados à política. Eyslan não gostava de como tudo estava se tornando complicado. Ele viera para aprender magia, não para navegar em campos minados da política.
Depois de ouvir mais algumas conversas semelhantes, ele foi para o dormitório. Era um dos poucos sortudos que havia conseguido um quarto só para ele.
Ainda assim, rumores de caos persistiam — como um evento envolvendo uma "incontropia" alguns dias antes. Simulações de corrida falharam. Pequenos acidentes se acumularam. Partes de equipamentos e ferramentas mágicas foram quebradas ou atrasadas. As aulas dos alunos do primeiro ano foram adiadas por pelo menos uma semana.
Considerando individualmente, esses eventos pareciam não ter relação. Mas, quando vistos em conjunto, pareciam sabotagem deliberada — um esforço orquestrado para impedir que os calouros começassem seus estudos no prazo. Os suprimentos estavam sendo adquiridos de fornecedores desconhecidos. Os materiais podiam estar com defeito. O centro de preparação de poções dos calouros havia sido destruído durante um incidente envolvendo um aluno aleatório. A academia foi forçada a contratar novos funcionários para os laboratórios, já que os profissionais originais estavam envolvidos em outros projetos.
Observando tudo isso, Eyslan começou a suspeitar que alguém estava mirando nos calouros. Que eles estavam sendo preparados — ou manipulados — para alguma coisa. Este lugar não entregava cristais desconhecidos e doses não testadas por acidente. Algo estava acontecendo.
Ele decidiu estabelecer contramedidas.
Ele abriu sua bolsa e verificou seus materiais: uma pedra de mana, um pacote de papéis de encantamento que podiam ser aplicados em superfícies, uma varinha feita sob medida para cortar objetos, uma poção de regeneração de mana e um suplemento para clareza mental.
Então, ele teve uma ideia ousada.
Ele misturou os ingredientes da poção de regeneração de mana com os da poção de clareza mental, criando uma nova variação que concedia ambos os efeitos. Ele examinou seus papéis de encantamento e escolheu um encantamento de separação , aplicando-o a um frasco de poção para que agisse como um spray ao ser quebrado.
Ele também preparou um encantamento de deslizamento , permitindo que superfícies deslizassem umas contra as outras, e um encantamento magnético para unir objetos.
Em seguida, caminhou em direção ao local onde uma nova torre estava sendo construída. Carruagens e outros meios de transporte já entregavam materiais. Observando os trabalhadores empilhando poções no depósito, ele dobrou um avião de papel encantado e o lançou em direção às prateleiras de poções. No exato momento em que atingiu o alvo, ele usou sua varinha para cortá-lo no ar. O encantamento grudou na prateleira.
De volta ao dormitório, ele olhou para o último papel de encantamento em sua mão. Usando o feitiço de corte e seus próprios dedos, rasgou-o em pequenos pedaços e os jogou na poção que havia criado. Os papéis se dissolveram, deixando os encantamentos no líquido.