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Chapter 2 - Capítulo 2- Starks

Winterfell

POV RICKARD STARK

Do alto de Winterfell, as neves eternas dançavam com o vento como véus brancos, cobrindo torres, pátios e muralhas. O fogo das lareiras crepitava sob pedras antigas, mas nem todo calor podia derreter a preocupação que crescia no coração de Rickard Stark.

O Senhor do Norte se encontrava em sua câmara privada, cercado por pergaminhos abertos, relatórios dobrados e cartas amassadas vindas de todas as direções. Seu rosto austero, emoldurado por cabelos escuros entremeados de prata, estava carregado de dúvida.

— Outra? — perguntou ele ao meistre Walys.

— Sim, meu lorde — disse o velho comedidamente, entregando mais um documento com o selo de Torre Sombria.

Rickard leu em silêncio. As palavras pareciam repetidas, como um eco que crescia:

> "Menino de olhos violetas. Viajando sozinho. Curando feridos com toque de luz. Criatura negra com olhos de fogo ao seu lado. Desenhos de castelos feitos à mão. Bandidos mortos sem armas, como se queimados por dentro…"

Suspirou e largou o pergaminho.

— Isso faz sete — murmurou. — Sete cartas, sete relatos diferentes. Das Terras dos Rios até o litoral de Skagos. E agora… Winterfell.

O meistre hesitou antes de falar:

— Se me permite, meu senhor… normalmente descartaríamos isso como superstição de camponeses. Mas os relatos vêm de cavaleiros, septões e até de um intendente de Karhold. Nenhum parece ter contato com o outro.

Rickard esfregou o queixo.

— Dois anos atrás, um menino partiu de Porto Branco montado num cavalo preto. Isso era conhecido, mas ninguém ligou àquelas lendas. Agora dizem que ele esteve em Lagoa da Donzela, Dreadfort, até nos limites do Gargalo. E o povo sussurra que ele só deve ter menos de 10 anos de nome.

Ele se levantou e andou até a janela. Lá embaixo, o mercado de Winterfell fervilhava com vida. E mesmo de tão alto, ele a viu.

Lyanna.

Sua filha de dez anos, teimosa como uma loba selvagem, caminhava sozinha entre as barracas. As tranças negras dançavam ao vento enquanto ela gesticulava animadamente com um grupo de crianças. Ao seu lado, uma anciã apontava para o norte do mercado.

Rickard franziu o cenho.

— Ela esteve com ele — disse.

— Com… ele? — perguntou Walys.

— O menino. Ela mesma contou a Lyarra que viu "um jovem com olhos de joia roxa" desenhando Winterfell com carvão numa tábua de madeira. Disse que falou com ele. Que ele a chamou de "pequena loba".

O meistre se calou. Era perigoso demais para ignorar, estranho demais para entender.

— E o que a senhorita Lyanna achou dele? — arriscou.

— Disse que ele era gentil, mas triste. Que não parecia ter medo. E que quando tocou no braço de um velho aleijado no mercado, ele simplesmente se levantou e saiu andando. Como se fosse milagre.

Rickard cerrou os punhos.

— Isso é feitiçaria. Se for verdade, estamos lidando com um bruxo. Um menino sem nome, sem casa, vagando pelo Norte e se metendo em assuntos que não lhe dizem respeito.

— E ainda assim — disse o meistre — ele curou, protegeu, defendeu. Há quem diga que ele salvou uma caravana inteira de comerciantes das Montanhas da Lua, sozinho.

O Senhor de Winterfell fitou novamente os pergaminhos. Em sua juventude, tivera ouvido historias de velhas magias, sussurros da Velha Nan, runas antigas deixadas nos Bosques de Codorniz. Mas isso… isso era diferente. Era como se uma peça nova tivesse sido jogada no tabuleiro dos Sete Reinos.

— Envie corvos para Karhold, Última Lareira e Fosso Cailin. Quero tudo que tiverem sobre esse "Karma".

— Karma? — o meistre estranhou.

— É o nome que Lyanna disse que ele usava. Karma Slytherin.

O nome soava falso, estrangeiro, como algo saído de lendas antigas. Mas também carregava algum peso.

Rickard sentou-se novamente. Os olhos voltaram ao papel, ao rastro de magia e sombras deixado por um menino e que desafiava as leis de reis e deuses.

*No Norte, o inverno carrega seus próprios presságios.*

E talvez, pensou o lorde, aquele menino fosse um deles.

POV Lyanna Stark

O mercado de Winterfell estava cheio naquele dia, aquecido por uma rara manhã sem neve. O sol filtrava-se por entre nuvens grossas, dourando levemente os telhados cobertos de gelo, e o cheiro de carne assada e pão fresco preenchia o ar. Lyanna Stark caminhava com pressa, suas tranças saltando a cada passo. As donzelas da torre tinham protestado, mas ela escapara mesmo assim.

Ela procurava por ele.

Os rumores diziam que o menino havia voltado. O menino de olhos violetas. O pequeno feiticeiro que viajava sozinho, montado num cavalo negro como a noite, curava feridos, desenhava castelos e punia criminosos. Uma criança que parecia saída das canções antigas... ou dos contos da Velha Ama.

Lyanna sorriu. Havia algo de mágico e rebelde naquela história. E ela queria ver com os próprios olhos.

Entre as barracas, avistou-o. Sentado de pernas cruzadas diante de uma tábua de madeira encostada a uma carroça, traçando linhas com carvão. O capuz cinzento cobria parte dos cabelos negros, mas seus olhos... ah, os olhos eram exatamente como diziam: violeta profundo, como ametistas vivas.

Lyanna cruzou os braços e se aproximou com o que julgava ser dignidade nobre.

— Você é o menino das histórias? — perguntou com o queixo erguido.

O menino ergueu os olhos lentamente. Olhou para ela por um momento longo, sem se levantar.

— E você é a loba que gosta de histórias? — respondeu ele, com um leve sorriso.

Lyanna franziu o cenho.

— Meu nome é Lyanna Stark. Filha do Lorde de Winterfell.

— E o meu é Karma. Karma Slytherin — disse, voltando ao desenho.

— Você não vai se levantar? Fazer uma reverência? — insistiu, irritada.

— Eu não reverencio ninguém. Mas posso te oferecer um desenho — disse, traçando o contorno de uma torre com leveza.

Lyanna suspirou, dividida entre o orgulho e a curiosidade. Sentou-se ao lado dele.

— Você não parece um feiticeiro.

— Porque não uso capa preta nem cajado? — ele riu. — As pessoas esperam chamas e trovões. Eu só faço o que é necessário.

Ela observou o desenho. Era Winterfell. Cada torre, cada muralha, cada janelinha detalhada com precisão impressionante.

— Por que você faz isso? Por que viajar pelo Norte inteiro? Sozinho?

Karma parou o carvão por um instante.

— Porque este mundo é grande demais para viver preso a uma casa, a uma torre. Quero conhecer tudo. Montanhas, rios, cidades. Quero ver Dorne, as Ilhas de Ferro, o Ninho da Águia, as planícies do sul...

— Isso é loucura — disse ela. — Você tem nove anos.

— E você tem dez. Isso nos torna mais próximos do que distantes.

Ela corou e se frustrou por se envergonhar na frente de um pebleu.

— E vai embora de novo?

Karma assentiu.

— Estou partindo amanhã. Irei rumo ao Tridente. Mas voltarei. Um dia... — seus olhos se perderam no horizonte — quero atravessar a Muralha. Ver o que existe além.

— Isso é ainda mais louco — ela riu. — Os Outros vivem além da Muralha.

Mesmo que meistre Walys diga que são só lendas.

— Talvez. Ou talvez existam coisas ainda mais antigas. E eu quero ver.

Lyanna o observou em silêncio por um tempo. Ele não parecia forte, nem armado. Mas havia algo nele — uma firmeza silenciosa, uma ausência de medo.

— Vai mesmo voltar? — perguntou baixinho.

— Prometo. Uma promessa de viajante — disse ele, estendendo a mão.

Ela apertou com desconfiança, mas firmeza.

— Então vá. Mas lembre-se: os lobos do Norte não esquecem.

Karma sorriu.

— E as serpentes também não.

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